Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

domingo, 24 de outubro de 2010

Impossível não te amar (Flavinho)


Impossível Não Te Amar
Flavinho
Composição: Ízaias Luciano


Como é bom viver só para ti senhor
Sentir bem forte em mim o teu amor.
Como é bom saber que tu cuidas de mim
Meu coração se alegra , pois teu espírito me conduz.
Em cada mimo que tu me fazes,
Meu coração se rejubila.
Mesmo na provação sei que estás comigo,
Pois teu amor me conquistou, é impossível não te amar.

Oh! meu jesus, roubaste o meu coração
O teu amor me conquistou, senhor!
Oh! meu jesus, roubaste o meu coração
O teu amor me conquistou, é impossível não te amar.

Quando olho de onde tu me resgataste
Vejo a tua misericórdia e te agradeço.
Porque agora eu te conheço,
O teu amor me conquistou , é impossível não te amar.

Oh! meu jesus ...

Apelo a todos os brasileiros (Blog Mosaico)

No último dia 17 de outubro, a Polícia Federal, movida por uma ação do PT, recolheu os panfletos elaborados pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul I da CNBB, alegando, com essa ação, crime eleitoral. Pois bem, esse blog tem, em média, 40 visitas diárias... Vou deixar esse apelo, até o dia 31 de outubro, no topo da página e peço a todos os leitores que ajudem a divulgar esse Manifesto o máximo que puderem - usem todos os recursos que têm (email, facebook, twitter, blogs etc.).

A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua Reunião ordinária, tendo já dado orientações e critérios claros para “VOTAR BEM”, acolhem e recomendam a ampla difusão do “APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS” elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 que pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico www.cnbbsul1.org.br.

São Paulo, 26 de Agosto de 2010.

APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS
Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,
- considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,
- considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,
- considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Política das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91, como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,
- considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,
- considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,
- considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,
- considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto - problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,
- considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,
- considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,
- considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,
RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.
Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil”, elaborado pelas Comissões em Defesa da Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO EM DEFESA DA VIDA DO REGIONAL SUL 1 DA CNBB

Dom Nelson Westrupp, scj
Presidente do CONSER-SUL 1

Dom Benedito Beni dos Santos
Vice-presidente do CONSER-SUL 1

Dom Airton José dos Santos
Secretário Geral do CONSER SUL 1


Ler mais: http://prapacheco.blogspot.com/2010/10/apelo-todos-os-brasileiros_24.html
Este texto foi extraído do blog Mosaico, mantido por Paulo R. A. Pacheco.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um ano sem poesia (Elton Quadros)


Recebi de meu amigo Elton Quadros o conteúdo que segue logo abaixo e que expressa esta sede, esta busca incessante pela beleza, que inquieta a alma:

"Caros amigos e amigas,

Espero que esteja tudo bem.

No domingo passado, percebi algo que me deixou profundamente triste. Comprovei que há mais de um ano, não leio um livro de poesia inteiro, acho que desde os meus 14 anos de idade isso não acontecia, fiquei desolado. Como um sujeito alfabetizado passa um ano sem ler um livro de poesia? Fiquei triste, mas, já era muito tarde e tinha que dar aula no outro dia e fui novamente consumido pela roda-viva 'da vida'...

Agora há pouco recebi, pela internet, um poema que me fez lembrar de uma coisa e pensar em outra: Lembrei de um dos versos da música popular brasileira que mais gosto 'sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar, sabe lá' 'Djavan' e como vocês verão, essa frase já estava, em alguma medida, presente neste poema que recebi e, de certa forma, viver a correria do mundo pós-moderno em que não podemos parar nunca, nem mesmo para ler um livro de poesias, pareceu agora, como isso, viver com sede em frente ao mar. Mas, felizmente, a internet, com esse poema vindo por 'mares nunca dantes navegados' possibilitou a mim, um pouco de sombra e água fresca!

E, por via das dúvidas, já coloquei na mochila um livro de poesias para não passar tanta sede novamente!

Aqui vai o poema de Miguel Torga que despertou-me do meu 'sono dogmático'...rsrs"



SÚPLICA

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga



Abraços deste malungo!

Elton

(Imagem do post: poeta Bruno Tolentino)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

The things that I see (As coisas que eu vejo)


The things that I see
(Riro Maniscalco/Rich Veras)


The things that I see, got me laughin' like a baby.
(As coisas que eu vejo me fazem rir como um bebê.)

The things that I see, got me cryin' like a man.
(As coisas que eu vejo me fazem chorar como um homem.)

The things that I see, I can look at what He gave me,
(As coisas que eu vejo me fazem olhar o que Ele me deu,)

And He's gonna show me even more than I see.
(E Ele me mostrará ainda mais do que eu agora vejo.)



Just the other day I heard a new voice in the darkness
(Há alguns dias eu ouvi uma nova voz na escuridão)

Sendin' me away with mud on my face
(Me mandando embora como lama em minha face)

I heard the people say, 'He's a crazy and he's hopeless'
(Eu ouvi as pessoas dizerem: ele é louco e não há esperança para ele)

till a splash washed the darkness away.
(Até que um borrifo levou embora a escuridão!)

(Refrão)



Makin' me explain to a lot of angry faces
(Fazendo-me explicar para uma multidão de rostos cheios de raiva)

Talkin' to 'em plain, they don't hear what I say.
(Falando com eles diretamente. Eles não ouvem o que eu digo.)

Tellin' me again he's crazy and he's reckless
(E me dizem de novo: "Ele é um pecador e ele é um irresponsável.")

But there's only one thing I can say.
(Mas só há uma coisa que eu posso dizer...)

(Refrão)



He came to me again and this time I could see Him.
(Ele veio novamente a mim, e desta vez eu consegui vê-Lo.)

Told me how He'd been out lookin' for me.
(Disse-me como Ele esteve me procurando.)

He told me to believe. I said, 'what should I believe in?'
(Ele me disse para acreditar. Eu disse “em que devo acreditar?) "

He said, 'Keep on believin' in me!'
(Ele disse: "Continue acreditando em mim!")

(Refrão)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Exilados a caminho


"Esse admirável, esse imortal instinto do Belo (...) nos permite considerar a Terra e seus espetáculos como uma correspondência do Céu. A sede insaciável por tudo o que existe no além, e que a vida revela, é a prova mais viva da nossa imortalidade. Junto com a poesia e através da poesia, com e através da música, é que a alma entrevê os esplendores situados além do sepulcro. E quando uma saborosa poesia faz saltarem as lágrimas dos olhos, essas lágrimas não são a prova de um excesso de gozo, e sim testemunhas de uma saudade irritada, de uma exigência dos nervos, de uma natureza exilada na imperfeição e que gostaria de apossar-se imediatamente, já nesta Terra, de um paraíso revelado".
(Charles Baudeleire, Nuove note su Edgar A. Poe)
Revista Passos n. 117 - Julho/2010
Vincent Van Gogh - Marguerite Gachet no jardim (1890)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

"A voz única do ideal" (Encontro sobre vocação com Julián Carrón)




A voz única do ideal

Encontro de padre Julián Carrón com os formandos dos colegiais de CL
Roma, 16 de maio de 2010


Amigos, este momento da vida de vocês é particularmente decisivo, porque em nós, em cada um de nós, há uma batalha se travando entre a “voz única do ideal” (como acabamos de cantar [Chieffo, "Parsifal -Canzone dell’ideale"]), que todos sentimos vibrar dentro de nós, e todas aquelas circunstâncias que tantas vezes tentam expulsar esta voz, de forma que não sabemos mais para onde ir. Esta é uma luta que cada um de vocês vive dentro de si, e por isso este momento é particularmente dramático, porque escolhas como aquelas que vocês estão para fazer são determinantes na vida, porque a pessoa começa a tomar consciência de todos os fatores e vê emergir o próprio rosto: “O que estou fazendo no mundo?”. E entendo muito bem o drama que cada um pode viver neste período da vida; é um período que nos obriga a escolher; vocês estão para terminar, é preciso escolher, é preciso começar a escolher, não é que a vida nos espera; é preciso escolher, porque não escolher é já uma escolha; de fato, todos, no final do ensino médio, escolhem, se colocam na vida com um rosto, e têm que enfrentar esta luta: “Não fiquem presos à corte das almas anãs que repetem os gestos e não sabem entender. Não subam ao castelo dos jovens justos que adoram o sol”. Pelo contrário, o ideal nos convida a lutar contra esta redução. A primeira consciência que devemos ter é desta luta que está acontecendo agora.
A segunda questão é o caminho, saber o caminho para chegar àquele ideal, porque “caminha o homem quando sabe bem para onde deve ir”.
Dom Giussani nos ensina: “Somente na clareza e na segurança o homem encontra energia para a ação”. Por isso, queremos nos ajudar a esclarecer aquilo de que temos necessidade para poder viver, para podermos nos lançar na vida, porque é uma exigência do momento que vocês estão vivendo, uma urgência que nasce no profundo do ser de vocês, a descoberta da vida como vocação.

1) Pelo que vale a pena viver?
A primeira questão da vocação que temos que encarar não é o que escolher, esta é a consequência. A primeira questão é a que urge tantas vezes em nosso coração: “Mas, por que eu existo? Por que estou no mundo? Pelo que vale a pena viver? O eu serve para quê? Para que serve o meu eu?”. Como vocês podem ver, é a questão da vida, a questão fundamental de cada um de nós. A primeiríssima decisão é levar a sério esta pergunta, esta urgência, porque, como dizia R. M. Rilke, “tudo se concerta para nos calar”, para nos fazer agir segundo outros critérios. Parar esta pergunta significaria matar a natureza do homem, ou seja, bloquear o nosso eu no momento em que ele se lança na vida. Por isso estamos juntos nesta manhã, para que, antes de mais nada, não bloqueemos a pergunta, para não bloquearmos a voz do ideal.
Imaginem se um pedaço de alguma coisa, por exemplo uma engrenagem de uma máquina, se perguntasse: “Qual é a minha utilidade? O que estou fazendo aqui?”. Ela só conseguiria entender isso a partir de dentro do relacionamento, no seu nexo com toda a máquina, porque cada pedaço do real só pode ser compreendido no seu nexo com o todo. Por isso, se nos perguntássemos: “Para que serve a minha vida? O que sou chamado a realizar?”, a questão é encontrar o critério que nos ligue ao todo, “aquele critério que, sendo seguido, faz com que o homem se torne útil ao mundo, de tal modo que caminhe sempre mais em direção à sua personalidade, no rumo da sua felicidade, [...] não em direção à sua perda”. Atenção, porque isto é fundamental: não é que servir ao mundo signifique nos perdermos, mas o serviço ao mundo é um ganho para nós, é a nossa realização. Entender isto é fundamental, porque tantos pensam que a única modalidade para realização de si seja a auto-afirmação (não afirmar-se na relação com a totalidade, mas na relação consigo mesmo) e, por isso, depois, acabam sozinhos num esconderijo, perguntando-se sobre o sentido da vida. Por isso é tão decisivo. Para a minha realização, devo entender o que estou fazendo no mundo, porque sem isto vou me perder inexoravelmente. Mas, como entender essa coisa? Como entender o que estou fazendo no mundo? A que sou útil?
Para responder a esta pergunta é preciso entender qual é o sentido do mundo, qual é o significado do mundo. E isto, amigos, para nós é misterioso: qual é o sentido da totalidade, qual é o sentido do mundo, da história? Como dizia São Paulo: “Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-Lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós”. Seria, de fato, difícil descobrir o sentido do mundo – ou, em outras palavras, a Deus –, e por isso mesmo a minha utilidade neste mundo, se permanecessémos no escuro, neste mistério: “Por toda a vida, a verdadeira lei moral seria a de estarmos suspensos ao aceno deste ‘senhor’ desconhecido, atentos aos sinais de uma vontade que nos apareceria através da pura e imediata circunstância. Repito: o homem, a vida racional do homem deveria estar suspensa ao instante, suspensa a cada instante a este sinal aparentemente tão volúvel, tão casual, que são as circunstâncias”. Em termos teologicamente eruditos, Santo Tomás afirma: “a verdade sobre Deus, registrada pela razão, chegaria aos homens por meio de poucos, depois de longo tempo e de mistura com muitos erros”.
Mas, o Mistério teve piedade de nós: vendo-nos tão fracos, teve piedade de nós e entrou na história para nos revelar o que, sozinhos, não seríamos capazes de penetrar, tornou-Se um homem para ajudar os homens a serem si mesmos, para revelar o sentido último do mundo e ajudá-los a entender o significado da vida. Jesus Cristo usou uma expressão para descrever qual é o significado do mundo: o reino de Deus. Todo o valor da realidade está em construir o reino de Deus, está em participar da construção deste reino, ou seja, participar da construção de um mundo que corresponda ao Ideal que se fez carne. Por isso, deum contribuição fundamental para entender o nosso lugar no mundo. O meu valor e o seu valor estão na medida em que colaboramos com o reino de Deus, na medida em que ajudamos a humanidade a caminhar no rumo da felicidade. Porque é somente participando deste reino – que é o reconhecimento da Sua presença entre nós – que o indivíduo pode alcançar a própria felicidade, a própria realização.
Vocês têm que trabalhar sobre cada uma dessas frases, se perguntando: é verdade ou não é verdade? Não é que, agora, vocês devem repetir as frases como se fossem uma sequência lógica e, então, o problema se resolveu; não! Vocês têm que perguntar, porque, de outra forma, não irão entender o alcance daquilo que nos dizemos e, depois, vão acabar decidindo sem pensar, já que não entenderam. Nestas passagens se joga, de fato, a vida. Por isso, este é um momento precioso, fundamental, para darem um salto na consciência de quem sou eu, de o que estou fazendo no mundo e qual é o sentido do mundo.
“Para a escolha da vocação, portanto, o critério não pode ser outro que: como eu, com tudo o que sou espiritual e intelectualmente, como temperamento e como educação, como físico, posso servir mais ao reino de Deus”.

2) A descoberta da vocação
Como posso entender os sinais que me permitem esclarecer a forma como posso servir mais ao reino de Deus? Devo localizar aquele complexo que eu sou para poder entender como posso usar tudo o que tenho, tudo que trago comigo e que me foi dado, para a utilidade do reino de Deus.
Tomo o que disse Dom Giussani e o subdivido, para maior clareza em três grandes critérios.
O primeiro critério a ser olhado é o complexo de inclinações ou dotes naturais. Cada um de nós traz consigo uma série de capacidades, desejos, ímpetos, um temperamento. São dons preciosos que devemos colocar a serviço de algo outro. Foram-nos dados, todos estes dons, para algo na vida, para serem usados, para viver: como eu posso usar todos estes dons que o Senhor me deu para servir mais ao reino de Deus? “Por exemplo, há um temperamento de inteligência que parece bobo quando se aplica à matemática, mas é genialíssimo quando se trata de construir [...] um conto: é um gênio literário, que em matemática pareceria um bobo. Se o forçam a fazer o Politécnico, lhe impedem de ser útil à humanidade”. Se o professor, o pai, a mãe, a criança, a babá, o cachorro dizem: “Não... você tem que fazer o Politécnico”, eles “matam” você. Parece banal, mas você não conseguirá ficar contente, não conseguirá render, não será capaz de servir; você não terá encontrado o seu lugar no mundo e, por isso, será enganado, porque terá escolhido algo a partir de fora, não levando em consideração os dons que você recebeu. “Há, por exemplo, um tipo que é genial na arte musical. Se o obrigarem a fazer Direito, certamente seu rendimento diminuirá e, portanto, se torna mais difícil o seu caminho, visto que as duas coisas coincidem sempre. A intensidade ou a beleza... a beleza do caminho – já que a beleza é o esplendor do verdadeiro – coincide com a utilidade que realizamos no mundo [...]. A beleza do caminho corresponde à verificação [no sentido de tornar-se verdadeiro] da nossa vocação. Portanto, para localizar este condicionamento [este complexo de dons recebidos, de inclinações, de dotes], antes de mais nada é necessário a atenção aos próprios dotes naturais, ou capacidades [atenção àquilo que tenho como tendência, como facilidade, tenho como gênio]. Como se chama aquele fenômeno que faz os dotes e as capacidades naturais virem à tona? Se chama ‘inclinação’, a inclinação. [...] A natureza nos introduz aos ideais, mas sempre através de um gosto ou de uma inclinação, um prazer ou uma necessidade. [...] Por isso, a primeira grande regra prática é [...] a simplicidade”, a sinceridade de olhar e reconhecer e abraçar estes dons como o primeiro sinal que a realidade me oferece para entender o que faço no mundo. O erro mais grave que se pode cometer na determinação da própria vocação “é se colocar em uma condição de desconfiança quanto às próprias inclinações, quanto ao gosto, quanto ao prazer autêntico [...] e natural”. Podemos resumir assim: os dotes, o temperamento, as tendências de que somos constituídos são aquilo para o que devemos olhar, porque são aquilo através do que o Mistério nos chama, dando-nos esta capacidade, estas inclinações dentro de nossa carne; não nos manda um anjo, mas nos plasma a partir de dentro de nossas vísceras, para dizer-nos a que nos chama, porque é Ele que nos fez assim. Por isso, também a orientação profissional, por exemplo, deverá levar em consideração estas tendências nativas como um modo de encaminhar-se para onde Deus, através das capacidades que nós dá, nos chama. Chama você, mas chama você não de fora, chama você dando a você todas estas inclinações.
Segundo critério: as condições inevitáveis ou as circunstâncias inevitáveis. Dom Giussani diz que “a circunstância inevitável é certamente – como dizer? – a coisa mais amiga que temos no mundo, porque é o fator mais evidente da nossa existência. Porque na avaliação das nossas inclinações e dos nossos dotes, frequentemente há a possibilidade da incerteza, ou o medo”... Nem todos são Mozart e têm a clareza dos dons e dos dotes tão claramente desde o princípio; às vezes, não é tão evidente assim, enquanto que as circunstâncias inevitáveis são evidentes e uma pessoa, por exemplo, pode querer fazer astronomia porque é, de fato, dotado para isso, mas – pensemos – por uma circunstância familiar, por falta de recursos, uma circunstância de fato inevitável, não pode fazer esse curso, porque a família passou mal pela crise econômica. Então, o resultado disso é que ele tem que começar a trabalhar. Circunstâncias inevitáveis determinam a possibilidade ou não de fazer certas coisas: alguém quer fazer ciclismo ou participar das Olimpíadas porque é, de fato, bem dotado atleticamente, mas sofre um acidente e fica manco. Para entender o que está fazendo no mundo, o primeiro movimento não pode ser ficar com raiva, mas aceitar esta circunstância inevitável. Imaginem que aquela pessoa, que ficou manca, ficasse de cabeça dura insistindo em dizer “Não, eu quero ir às Olimpíadas”; seria uma teimosia, um capricho” Do ponto de vista vocacional, Dom Giussani diz: “A circunstância inevitável é 100%, com certeza absoluta, sinal do caminho a ser seguido. Por isso, não existe nada de mais amigo, de mais facilmente amigo nosso, do que a circunstância inevitável, o fato”. Acrescento ainda um aspecto fundamental, uma nota fundamental: nada disso é fatalidade, o destino não é o fato: tudo – mas tudo mesmo – se torna instrumento de vocação! Você está seguro de que se tornando um atleta vai atingir a sua plenitude e a satisfação mais facilmente do que através daquela circunstância inevitável? Não. Abraçar este acidente como parte do caminho em direção ao destino é esperar, curioso, como o Senhor vai fazer para me levar até à felicidade, através do meu ser manco. Mas não introduz uma dúvida! Não fico ali lamentando-me por toda a vida. Antes: esta condição inevitável se torna elemento fundamental através do qual o Mistério me fará chegar ao destino, ao ideal, à felicidade. Se, porém, paramos na raiva, será a nossa tumba, porque na vida podem acontecer muitos acidentes de percurso que são inevitáveis, mas se nós não tivéssemos a possibilidade de que a vida continuasse a ter um sentido (e pensamos que apenas certas pessoas, com certas capacidades, podem atingir o escopo da vida), dependeremos apenas do acaso. Pelo contrário, qualquer circunstância é parte da conquista do destino, da felicidade. E isto é, de fato, libertador, porque a felicidade não depende do sucesso mundano, mas do meu serviço ao todo, ao reino de Deus (por isso, pode ser a mesma coisa ser um porteiro ou um ministro).
Terceiro critério: a necessidade social, ou melhor, a necessidade do mundo e da comunidade cristã. Vocês têm que olhar de frente para o mundo, neste momento: do que ele precisa? Do que a Igreja precisa? A comunidade cristã tem necessidade de quê? Cada um tem que olhar aquilo que percebe como mais urgente, porque pode haver épocas e situações nas quais a urgência de uma dedicação total a Deus é mais forte, em outro momento, porém, é mais decisivo que existam homens no meio da realidade, no trabalho, na família, que possam testemunhar, a partir de dentro das vísceras da sociedade, lá onde todos vivem, o que é a vida, qual o sentido do viver. Também assim podemos descobrir a que somos chamados.
“O juízo deve brotar do complexo destes fatores colocados juntos. Mas isto implica outra consideração: sem reflexão e sem uma comparação – a comparação dialógica – com a comunidade na sua função típica, ou seja, com quem guia a comunidade, é inevitável que o nosso modo de proceder seja instintivo e mecânico. Nós refletimos sobre todas as coisas, mas quanto a isso, do que depende toda a estrutura da nossa via no seu valor mais pessoal, deixamo-nos levar automaticamente por aquilo que sentimos. É preciso refletir; e refletir quer dizer se comparar com o próprio destino, com o próprio fim, com Deus, com o escopo da vida, com o servir ao reino de Deus. Quem tem ainda o problema intacto deve sentir o dever de recuperar imediatamente estes critérios; e que tem às suas costas fatores que não podem ser eliminados, também ele, mesmo que de outra forma, deve recuperar os mesmos critérios”. Imaginem que vocês ganhem milhões; a coisa normal é perguntar a alguém onde colocar o dinheiro para não o perder fazendo investimentos malucos, não? Perguntar não é um dever, mas é um interesse: interessa-me fazer esta comparação para não perder o dinheiro. Certo, no final serei eu a decidir, mas me agradaria decidir com toda a consciência para que ele renda bem. Se isto acontece com o dinheiro, imaginem o que deveria acontecer com a vida: quero estar seguro de ter presente todos aqueles fatores que me permitem tomar uma decisão completa, porque a razão é a consciência de todos os fatores.

3) A escolha da vocação
Com tudo isso, fica claro que são duas as questões fundamentais para serem decididas, duas são as escolhas fundamentais que cada um de nós é chamado a fazer na vida.

a) A vocação como escolha do estado de vida
Há dois estados de vida fundamentais: um é o “normal”, natural, ou seja, o de colocar-se diante de Deus através da mediação de outra pessoa. O que quer dizer colocar-se diante de Deus através da mediação de outra pessoa? Que, apaixonando-se, a pessoa que mais faz você vibrar, que mais abre você, que mais o lança, que mais chama a sua atenção para algo de outro é um mediador: você é chamado a se abrir à totalidade através deste fato que lhe aconteceu, que você carrega consigo. Se Deus dá a você aquela pessoa, não é para bloquear você naquele lugar, mas para abri-lo ainda mais ao Mistério, para abri-lo ainda mais àquela totalidade para a qual você foi feito: então, você começa a ter algum sinal de qual é a vocação a que Deus lhe chama. Você caminha em direção ao Destino através da mediação, na companhia da mediação de outro ou de outra. Neste sentido, uma pessoa segue a grande lei que une o homem a Deus através da realidade mundana, e uma pessoa assim diz: “Eu, com esta pessoa, vou até o fim do mundo”, vou até ao destino, sou chamado a ir ao destino com essa pessoa porque ela chama mais a minha atenção para o escopo da vida. Não é que esta pessoa me possa fazer feliz, porque não me fará feliz – atentos, porque nisso vocês erram sempre –, na medida em que o meu desejo é muito maior e onde isto se evidencia mais é exatamente aqui: nenhuma pessoa é capaz de despertar em você todo o desejo de felicidade como aquela pessoa, mas ao mesmo tempo nenhuma pessoa é mais incapaz de satisfazê-lo do que aquela mesma pessoa. Por isso, não se deve repreender o marido ou a mulher por causa dessa incapacidade, mas se deve entender que ela é parte da vocação, que aquela pessoa lhe é dada para despertar todo o desejo de caminhar juntos no rumo d’Aquele que é capaz de satisfazer o desejo (por isso, é uma vocação, porque é a possibilidade de chegar ao destino). Se você, pelo contrário, identifica o destino como sendo aquela pessoa e para nela, acontece como com todos: “Ah! Agora sei por que nasci!”. Qual se torna, na cabeça de vocês, a utilidade para o mundo? Querer aquela mulher, ponto! “Por que tenho que ir além? Por que tenho que me abrir para o além?”. Depois disso, sufocam e se separam, porque não são capazes mais de viver um com o outro: são tão feitos um para a outra que não conseguem mais viver juntos! Se cometemos esse erro, acabaremos como vemos que acabam tantos, hoje em dia, porque não compreendemos a natureza da experiência amorosa, daquilo para o que o Mistério nos faz, ao nos fazer assim: para que nos abramos mais Àquele que pode saciar a vida. “No âmbito cristão, a realidade deste estado [que é fazer uma família] é fundamental por que a isso é confiada a possibilidade mesma do prolongar-se do reino de Deus no mundo [através dos filhos]”.
Mas, na vida da Igreja há um outro estado de vida, que é aquele da virgindade, “que se constitui, também, numa função fundamental e que aparecerá também mais claramente na medida em que recuperarmos o motivo último e exaustivo pelo qual nos oferecemos a Deus: este motivo é a imitação de Cristo [Cristo, o Mistério feito carne, colocou na história uma modalidade de se ser útil ao reino de Deus que é viver para este reino, viver para fazer a vontade de Deus, dando toda a própria vida para isto: é exatamente o que fez Jesus, que não constituiu família, deu toda a sua vida para isso]. A imitação de Cristo é a lei de todos os cristãos, porém a escolha de um estado deste gênero toca objetivamente o seu vértice [uma vocação à virgindade toca o seu vértice], porque é a imitação do estado de Cristo na sua plenitude. O estado de Cristo na sua plenitude era um relacionamento com o Pai que, de um certo ponto de vista, como pessoa, não era mediado por nada [assim como no matrimônio o relacionamento com o Pai é mediado por outro, aqui o relacionamento com o Pai não é mediado por nada]”. Aqueles que são chamados a este estado são chamados a um relacionamento único, imediato, direto com o Mistério. Esta é a virgindade: Deus chama, Deus introduz na vida uma semente, uma experiência do viver tal que torna você tão pleno, tão grato, que torna possível a você uma experiência de vida que lhe permite dizer: “Eu quero isto”, e isto lhe torna livre para dar toda a vida, não para mutilá-la. É por uma plenitude, não por um sacrifício, é por ter ficado fascinado por Cristo que uma pessoa sente a urgência de dar-Lhe tudo: “Eu sou para ti, Cristo”. Atenção, que ninguém pense neste caminho por outro motivo que não seja a plenitude! Não é porque é mais perfeito, não é porque é mais bonito, não; é porque a pessoa vive suspensa sobre um cheio e não quer perdê-lo por nada desse mundo, tanto é verdade que as pessoas que encontram essa plenitude, às vezes, nunca nem pensaram nesse caminho, mas, de repente, descobrem essa plenitude e dizem: “isso é demais, isso é bonito demais para não ser seguido”. Por isso, Dom Giussani diz: “Cristo, com a sua virgindade, não era um mutilado. Por isso, o conceito de renúncia, se indica a ressonância psicológica que a existência gera naquele caso, do ponto de vista do valor, do ponto de vista ontológico, não é renúncia a algo, mas é o entrar na posse mais profunda e mais última das coisas. A virgindade de Cristo era um modo mais profundo de possuir a mulher, um modo mais profundo de possuir as coisas. Isto teve, por assim dizer, a sua realização no fato da ressurreição, através da qual Cristo possuiu todas as coisas, como nós possuiremos no fim do mundo. Neste sentido, a virgindade, no âmbito da comunidade cristã, é a situação paradigmática, exemplificativa, ideal de referência a todos”. É o paradigma, o exemplo, o ideal não de uma não-posse, mas da posse verdadeira.
Outro dia, na pausa de uma aula na Universidade Católica [de Milão, uma garota veio até a mim para dizer, depois de anos de noivado: “Gostaria de voltar àquele primeiro momento, àquele primeiro vislumbre do relacionamento com meu namorado”, quando ainda não se tinham tocado: esta é a virgindade! E por que esta garota, depois de anos, ainda tem saudade daquele instante? Porque tudo o que aconteceu depois não foi capaz de recriar nem um pouquinho da plenitude que havia experimentado então. Esta garota está noiva ainda, mas deseja isto, deseja uma posse do outro assim, e ser possuída pelo seu noivo assim, como naquele primeiro instante comovente. A virgindade é um modo mais profundo de possuir a mulher, um modo mais profundo de possuir as coisas. E hoje, que é a Ascensão, é a festa disso: quando Cristo ressuscitado entrou na profundidade das coisas, possuindo-as. Também nós as possuiremos no fim dos tempos, é uma realização verdadeira, afetivamente falando, porque é aquilo a que todos somos chamados: “A virgindade, portanto, na vida da Igreja [no reino de Deus], representa a função suprema, tanto é verdade que a história da Igreja identificou o testemunho nas suas formas supremas em dois pontos: a virgindade e o martírio. A virgindade, no âmbito da comunidade cristã, constitui-se em função e testemunho para o fim da vida”. Nela podemos gritar a todos: “Preste atenção no fato de que aquilo pelo que você ama a sua namorada, o seu namorado, aquilo pelo que você se casa, pelo que você tem filhos, tem um nome que eu grito para você através da minha vida: Cristo. E é possível aquilo pelo que você foi feito tendo a mulher e os filhos, existe, eu o testemunho para você. Por quê? Porque eu dou a vida para isso e a minha vida não existiria, não seria o que é se Ele não existisse. Seria impossível se Cristo não tivesse entrado na história e nos tivesse fascinado tanto a ponto podermos viver dEle”.
Quais dos dois caminhos abraçar, então? “A escolha entre um e outro caminho não pode ser uma ‘criação’ nossa, mas deve ser um ‘reconhecimento’ nosso. Devemos reconhecer algo para o que fomos destinados. Não deve ser uma decisão nossa no sentido de que a nossa vontade construa a própria posição, mas no sentido de que a nossa liberdade adira à indicação que nos assinala o caminho”. Então, a questão fundamental para a escolha da vocação é nos educarmos ao Mistério, educarmo-nos a permanecer escancarados, tesos a descobrir os sinais através dos quais eu possa entender a que sou chamado.
E isto, tantas vezes, é complicado, amigos. Porque somos feitos para o “portanto”, devemos chegar à clareza e, por isso, queremos acelerar o caminho quando não nos é ainda claro – sentimos um estranho mal-estar, uma impaciência. Como essa posição é vertiginosa, queremos superá-la o mais rápido possível e, tantas vezes, acabamos errando; ao invés de esperar que emerjam os sinais através dos quais o Mistério me dá todas as indicações às quais devo obedecer, ou decidimos nós ou fazemos com que outros decidam por nós. Porque o caminho é, no fundo, uma obediência; é uma obediência que tem dentro de si tudo aquilo para o que eu fui feito, que leva em consideração todos os fatores que me tornam verdadeiramente o que eu sou, não é uma decisão “minha”.

b) A vocação como escolha da profissão
Tudo o que dissemos até agora nos ajuda a entender também o caminho da escolha da profissão a desenvolver, mas gostaria de sublinhar fundamentalmente uma coisa. “A concepção moderna da vida nunca se mostra tão distante do Espírito de Cristo como neste ponto. O critério com o qual a mentalidade de hoje habitua a olhar o futuro tem como centro o proveito, o gosto ou a facilidade do indivíduo. O caminho a escolher, a pessoa a amar, a profissão a desempenhar, a faculdade em que se matricular, tudo é determinado de modo a erigir como critério absoluto a utilidade particular do indivíduo. E isto parece tão óbvio e normal que a subversão causada pelo chamado se mostra, mesmo a muitas pessoas de bem, um desafio ao bom senso, um fanatismo, um exagero. São acusações repetidas até por educadores que se sentem cristãos, ou por pais preocupados com o sucesso humano dos filhos: os juízos nas situações privadas e públicas, os conselhos para bem viver, as advertências e repreensões, tudo é ditado por um ponto de vista do qual estão totalmente ausentes a devoção ao todo e a preocupação com o Reino, e a realidade de Cristo é exilada”. Podemos participar do grupo de colegiais, podemos ter encontrado a Cristo, mas no momento decisivo das escolhas fundamentais Ele não tem nada que ver. Por isso, é dramático este momento, só de falar sobre isso sinto arrepios; imagino que arrepios vocês que estão para escolher devem sentir, tanto é contrário a toda a mentalidade no qual estamos imersos.
Vocês entendem por que é uma luta? A luta em nós é entre seguir a voz única do ideal (que seja aquela a nos indicar o caminho) ou deixar-nos engolir pela mentalidade do mundo. Se não nos dizemos estas coisas, não somos amigos; eu digo isso a vocês porque sou amigo de vocês, porque a questão é o objetivo da vida, a questão é o que estamos fazendo aqui. Se nós, neste momento-chave da decisão, não vinculamos a escolha da profissão ao o que estamos fazendo aqui, nos perderemos pelo caminho. “‘O que o todo poderá me dar? Como obter o maior proveito possível do todo?’: estes são os critérios imanentes à sabedoria mais difundida e ao bom senso mais reconhecido. A mentalidade cristã, ao contrário, derruba essas perguntas, as contradiz e as mortifica e agiganta o imperativo exatamente oposto: ‘Como eu poderei doar-me, com aquilo que sou, servir mais ao todo, ao Reino, a Cristo?’. Este é o único critério educativo da personalidade humana redimida pela luz e pela força do Espírito de Cristo”.
“Na escolha do trabalho e da profissão deve vir à tona aquela terceira categoria sobre a qual falamos [antes]: as necessidades da sociedade. Mas, para o cristão estas não podem ser um critério isolado de outro conceito mais profundo: a necessidade da comunidade cristã”. Então, o que significa, no fundo, esta disponibilidade se não prontidão, disponibilidade à vocação? É isto que devemos pedir: que o Senhor nos dê a graça de ver todos os sinais que nos permitem identificar a vocação de modo tal que não nos enganemos no caminho e nos tornemos disponíveis – porque, às vezes, podemos ver com muita clareza e não estarmos disponíveis.
“A profunda disponibilidade de toda a própria vida no serviço ao todo é de extrema importância exatamente também para compreender qual a função que se é chamado a desempenhar, qual a vocação pessoal”. Porque a vocação, amigos, não é uma ordem, ninguém ordena nada a vocês aqui, nesta manhã, nem mesmo Cristo deu uma ordem; é uma sugestão, um convite, uma possibilidade entrevista, e deixa intacta a liberdade de vocês. Depois de tudo o que dissemos, toda a liberdade, dramaticamente, está nas mãos de vocês.

(Traduzido por Paulo R. A. Pacheco)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Pode um homem nascer de novo, sendo velho?"

"(Cristo e Nicodemos: Jacob Jordaens)"
Introdução aos Exercícios da Fraternidade de CL - Julián Carrón
Rímini, Itália, 23 de abril de 2010 - São Paulo, Brasil, 28 de maio de 2010


Todos chegamos mais ou menos conscientemente movidos por um desejo, por uma espera, por uma urgência de que algo aconteça na nossa vida que a renove, que a faça mover se está parada, que vença aquele ceticismo que se insinua dentro de nós paralisando-nos, que introduza um respiro que nos liberte do sufocar nas circunstâncias.
Sabemos bem que o único que introduziu esta novidade na história é Cristo. Viemos para cá movidos por aquela esperança que Ele, um dia, suscitou em nós, em ti, em mim, por aquele abalo que nós sofremos e que carregamos conosco desde que aconteceu. Mas quantos aspectos da nossa pessoa, da nossa vida esperam ser mudados por Ele!
Por isso, invocamos o Espírito para que Cristo penetre sempre mais em cada fibra do nosso ser, nos torne sempre mais partícipes daquela comoção do Ser, que o Mistério – “A fonte do ser está em Ti” – se dignou compartilhar conosco.

Oh, vinde Espírito

Começo lendo o telegrama que nos foi enviado pelo Santo Padre: “Ocasião Exercícios Espirituais Fraternidade de Comunhão e Libertação sobre o tema ‘Pode um homem nascer de novo sendo velho?’ Sumo Pontífice dirige aos participantes afetuoso pensamento e enquanto espera que providencial encontro suscite renovada fidelidade a Cristo única fonte de esperança por um fervoroso testemunho evangélico invoca copiosa efusão luzes celestes e envia a V. Revma., aos responsáveis Fraternidade e todos participantes especial bênção apostólica. Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado de Sua Santidade”.

Saúdo a cada um de vocês e a todos os amigos que nos acompanham ao vivo, a partir de tantos países.

Cristo ressuscitou! Este é o anúncio que, incansavelmente, por séculos, a Igreja dirige a nós. Este é o acontecimento que domina a história, um evento que nenhum erro nosso ou dos nossos irmãos pode eliminar e que todo o mal que possa acontecer não pode cancelar. Este acontecimento é o motivo da nossa esperança; portanto, este acontecimento é que deve dominar em nós desde o primeiro instante destes dias: a Sua presença ressuscitada. Não seria adequado a todos os fatores do real, agora, um olhar sobre a nossa vida, sobre o sentimento que temos de nós mesmos, sobre o real e sobre o mundo, que não partisse deste reconhecimento; seria mentiroso, porque faltaria o fator decisivo de toda a história. Não existe uma novidade maior, nunca existiu uma novidade maior do que o acontecimento que Cristo ressuscitou. Por isso, na medida em que nos deixamos invadir totalmente por esta Presença viva, nos deixamos dominar por esta verdade – que é um acontecimento, não um pensamento criado por nós, mas um evento acontecido na história –, nós vemos mudar o sentimento que temos de nós mesmos.
Encontramo-nos juntos nestes dias para vivê-los sob a pressão desta comoção, sob a onda toda carregada desta comoção: Cristo morreu e ressurgiu para nós. Peço-lhes que Lhe deixem espaço, quer dizer que nos deixemos arrastar por este evento; não consintamos que permaneça em nós apenas como palavra. Aconteceu: que luz, que respiro, que esperança traz para a vida este acontecimento! É o sinal mais evidente e mais potente da ternura do Mistério por cada um de nós, desta caridade sem limites de Deus pelo nosso nada (inclusive a nossa traição).
É a Sua presença vitoriosa no meio de nós que nos impulsiona a continuar o nosso percurso para tentar superar sempre mais a ruptura entre o saber e o crer, para que este acontecimento reconhecido pela fé determine a vida mais do que todas as outras coisas. Se, pelo contrário, este acontecimento permanecesse apenas ao nível da piedade e da devoção, seria como se não tivesse existido, como se não tivesse toda a densidade de realidade para mudar a vida, para incidir sobre a vida; e então ficaríamos determinados por todas as outras coisas, que nos atropelam, que nos confundem, que nos desencorajam, que nos impedem de respirar, de ver, de tocar com a mão a novidade que Cristo ressuscitado introduziu e introduz na nossa vida.
Partimos, há dois anos, da fé, que tem como origem – todos se lembram – “um ponto de partida fora de nós”: encontrar-se com uma Presença excepcional. A fé é o reconhecimento desta Presença excepcional, tornada carnalmente presente hoje pelas testemunhas, pelo povo cristão, pela Igreja, que seria impossível se Ele não a gerasse constantemente. Mas, no ano passado, aprofundamos que, apesar de termos visto tantos acontecimentos excepcionais, apesar de termos tantas testemunhas diante de nós, frequentemente, depois de um instante, parece-nos que tudo desaparece; e identificamos a razão disso naquela ruptura entre o saber e o crer que se manifesta na redução da fé a projeção de um sentimento, a uma ética ou a uma forma de religiosidade estranha e oposta ao conhecimento. A redução está em nós: a fé não é mais concebida e vivida como um percurso de conhecimento de uma realidade presente, e isto deixa-nos fracos e confusos como todos. Uma fé que não é conhecimento, que não é reconhecimento de uma Presença real, não serve para a vida, não funda a esperança, não muda o sentimento que temos de nós mesmos, não introduz um respiro em cada circunstância. Identificamos o aspecto crucial da dificuldade na falta do humano: “O que falta entre nós não é a Presença (estamos rodeados por sinais, por testemunhas!); falta o humano. Se a humanidade não entra em jogo, o caminho do conhecimento fica paralisado. Amigos, não falta a Presença, falta o percurso”, o percurso introduzido pela curiosidade diante desta Presença, com a qual queremos entrar sempre mais num conhecimento aprofundado.
Depois de um ano, há sinais que tornam evidente que a ruptura entre saber e crer não foi ainda superada.
O primeiro sinal é que não se entende o nexo entre o acontecimento cristão e o humano: continuamos a percebê-los como exteriores um ao outro. Meses atrás, diante da minha insistência sobre o trabalho a ser feito, sobre a experiência, uma pessoa me disse que, no início, o Movimento a tinha tocado como encontro com algo de objetivo fora de si, de forma que não entendia por que eu, naquele momento, insistisse tanto sobre o trabalho. Então, tive que lembrá-la de onde havíamos partido: o deparar-se com uma presença; depois disso tudo desaparecia. Se esta dificuldade permanece, quer dizer que não entendemos a relação que existe entre o acontecimento cristão e o movimento do eu, não se entende que o sinal de que eu fiz um encontro é que começo a trabalhar, porque o meu humano é despertado. O trabalho é o sinal mais evidente de que o cristianismo é um acontecimento, ou seja, que acontece em mim algo que me desperta.
O segundo sinal é que o acontecimento cristão não produz uma mentalidade nova. Aconteceu-me neste verão escutar alguns dos nossos amigos estrangeiros que diziam como, diante de certos acontecimentos, se via que a mentalidade da origem é mais determinante, mais forte do que a mentalidade que nasce do encontro: diante dos acontecimentos da vida e do mundo a reação de tantos de nós é mais conforme à mentalidade de todos do que à mentalidade que o carisma do movimento expressa. Tendo tido, neste ano, a oportunidade de visitar tantas comunidades do mundo, vi isto em todos os lugares.
É como se víssemos sobre nós os efeitos daquilo que Charles Péguy descreve de modo tão sugestivo: “Pela primeira vez, pela primeira vez depois de Jesus, vimos, sob os nossos olhos, estamos para ver um mundo novo surgir, senão uma cidade; uma sociedade nova formar-se, senão uma cidade; a sociedade moderna, o mundo moderno; um mundo, uma sociedade constituir-se, ou pelo menos ser montada, (nascer e) crescer, depois de Jesus, sem Jesus. E o que é mais assustador, meu amigo, não é preciso negá-lo, é que conseguimos. [...] É isto que vos coloca numa situação trágica, única. Sois os primeiros. Sois os primeiros dos modernos”. Depois de Jesus, sem Jesus. Não se trata apenas de um progressivo distanciamento de uma prática religiosa; o sinal por excelência do afastamento de Cristo da vida é uma mortificação das dimensões próprias do humano, uma concepção reduzida da própria humanidade, da percepção de si, um uso reduzido da razão, da afeição, da liberdade, uma censura do alcance do desejo. Giussani utilizou, anos atrás, a metáfora da explosão nuclear de Chernobyl, que produziu esta alteração no ânimo dos homens: “O organismo, estruturalmente, é como antes, mas dinamicamente não é mais o mesmo. É como se fosse um plágio fisiológico”.
Por isso, me perguntava: o cristianismo é capaz de tocar o núcleo duro da nossa mentalidade, ou consegue apenas acrescentar algo de decorativo, de piedoso, de moralista, de organizativo a um eu já perfeitamente constituído, refratário a toda e qualquer interferência? Por isso, durante este ano, frequentemente me voltou à mente o diálogo entre Jesus e Nicodemos, de onde vem o título dos nossos Exercícios: “E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: ‘Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele’. Jesus respondeu, e disse-lhe: ‘Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus’. Disse-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e renascer?’”. É possível, nessa nossa situação, a criatura nova, algo de verdadeiramente novo? Este, para mim, é o maior desafio que o cristianismo tem diante de si agora: se – na modalidade com a qual persuasivamente nos alcançou: o movimento – é capaz de perfurar a crosta do modo com o qual cada um está no real ou se condenou a permanecer estranho, como um apêndice. Se não há mudança no modo de perceber, de julgar a realidade, quer dizer que a raiz do eu não foi investida por nenhuma novidade, que o acontecimento cristão ficou exterior ao eu. Também para nós a fé pode ser uma coisa entre as outras, encaixada, justaposta, que convive com o modo de ver e de sentir de todos. Alguns anos atrás, Dom Giussani dizia – vocês podem ler isso no livro da Equipe do CLU recentemente publicado –: “Todo o argumento da nossa posição de fé pode ser reconduzido exatamente à derrubada desta justaposição, porque Cristo, o acontecimento cristão [...] investe e penetra tudo”. Sem derrubar esta posição, não poderemos perceber a pertinência da fé às exigências da vida.
Cada um de nós pode julgar o trabalho deste ano, e verificar em que medida esta novidade entrou na raiz do próprio eu. Que novidade trouxe? Não são pensamentos, não é uma questão de opiniões, de interpretações: se Cristo entrou como novidade na raiz do nosso eu e determina tudo de um modo novo, trazemos isso conosco no modo de viver o real. Eu vi tantos sinais disso ao longo deste ano, em tantas das nossas comunidades (ao mesmo tempo, há ainda tanto trabalho a fazer, como todos podemos reconhecer na nossa experiência). Todos estes sinais positivos têm um denominador comum: gente empenhada com o seguimento da proposta que nós fizemos. Mas, em tantos surge ainda a pergunta: qual é o trabalho que nos espera? Tantas vezes, realmente, cada um enche a palavra trabalho com as próprias imaginações.
Por isto, queremos continuar esclarecendo o que significa esta falta do humano. Este ano tive que fazer algumas palestras sobre O senso religioso aos noviços dos Memores Domini, e como eu estava sob a pressão do trabalho que temos feito juntos, fiquei tocado com a modalidade com a qual reli alguns capítulos: não como tinha feito em tantas outras ocasiões, ou seja, como parte do percurso para a fé; mas de dentro da fé mesma. Por isso, tomarei a liberdade de retomar alguns capítulos de O senso religioso para nos ajudar a entender como Dom Giussani nos guia no caminho que estamos fazendo.
Mas, antes, temos que olhar no rosto a objeção da qual falávamos no início: para nós, acontecimento e trabalho parecem sempre estar em contraste. Este é um exemplo da distância que, às vezes, percebo entre a intenção de seguir Dom Giussani e segui-lo verdadeiramente. Olhem o que ele diz a todos aqueles que contrapõem cristianismo e trabalho: “Jesus Cristo não veio ao mundo para substituir-se ao trabalho humano [esta afirmação já bastaria], à liberdade humana ou para eliminar a provação humana, condição existencial da liberdade. Ele veio ao mundo para chamar a atenção do homem para o fundo de todas as questões, para a sua estrutura fundamental e para a sua situação real. Todos os problemas que, realmente, pela provação da vida, o homem é chamado a resolver, complicam-se ao invés de se solucionarem se certos valores fundamentais não são salvaguardados. Jesus Cristo veio chamar o homem para a verdadeira religiosidade, sem a qual qualquer pretensão de solução é uma mentira. O problema do conhecimento do sentido das coisas (verdade), o problema do uso das coisas (trabalho), o problema da consciência do que as coisas são (amor) e o problema da convivência humana (sociedade e política), não são justamente direcionados e por isso geram cada vez mais confusão na história dos indivíduos e da humanidade, na medida em que não se fundamentam na religiosidade, na tentativa da sua solução (‘Quem me segue terá a vida eterna e o cêntuplo nesta terra’). Não é tarefa de Jesus resolver os vários problemas, mas chamar a atenção para a postura com a qual o homem, mais corretamente, pode procurar resolvê-los. Cabe a cada homem empenhar-se nesse trabalho, que existe exatamente em função daquela procura”.
E ainda: “A insistência sobre a religiosidade é o primeiro dever do educador, isto é, do amigo, daquele que ama e quer ajudar o homem no caminho rumo ao seu destino. E o humano não existe originalmente senão no indivíduo, na pessoa. Toda a mensagem de Jesus Cristo é essa insistência. Não podemos começar a compreender o cristianismo a não ser partindo dessa sua origem apaixonada pela pessoa humana”.
E como se não fosse suficientemente claro, Dom Giussani observa ainda que a tarefa da Igreja é a mesma: “A Igreja, portanto, não tem como tarefa direta fornecer ao homem a solução dos problemas que ele encontra ao longo do seu caminho. Vimos que a função que ela declara ser sua na história é a educação ao senso religioso da humanidade, e vimos também como isto implica o chamamento a uma postura certa do homem diante do real e das suas interrogações, postura certa que constitui a melhor condição para encontrar respostas mais adequadas para essas interrogações. Acabamos também de sublinhar que a série dos problemas humanos não poderia ser subtraída à liberdade e à criatividade do homem, quase como se a Igreja tivesse de lhe dar uma solução já confeccionada”.
Por isso, a melhor homenagem que podemos oferecer a Dom Giussani no quinto aniversário da sua morte é o nosso seguimento, não apenas intencional, mas real. Poderemos ver, assim, como, cinco anos após a sua morte, ele continua a ser mais pai do que nunca para nós e, se formos verdadeiramente disponíveis, como ele nos gera.
Um gesto destas dimensões não pode ficar em pé sem a contribuição do sacrifício de cada um de nós na atenção aos avisos, ao silêncio, às indicações; este sacrifício é a modalidade do nosso pedido a Cristo de que tenha piedade do nosso nada, que não nos deixe cair no nada também nesses dias. Trata-se da possibilidade de criar um clima de silêncio adequado para que a semente que plantamos hoje, quando escutamos algo, não caia no caminho, não encontrando o terreno para germinar. Porque sem o silêncio tudo desaparece em meio minuto. Impressiona-me sempre que o silêncio nasce exatamente deste acontecimento: a Sua palavra me enche de silêncio. O silêncio não é apenas por uma questão de ordem, é a única resposta adequada para o acontecimento.