Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

domingo, 28 de junho de 2009

Michael Jackson e a destruição do homem (por Dimitri Martins)

"Ontem, por volta das nove da noite, eu acordei. Dormi a partir das oito porque acordei às cinco e meia da manhã enquanto fui dormir às uma e meia do dia anterior. Vi que uma amiga minha tinha me ligado e retornei a ligação. Além do convite para uma festa, ela me contou que Michael Jackson tinha morrido. Eu tomei um susto. Imediatamente fiquei abalado, e depois me surpreendi chorando à meia-noite vendo no Jornal da Globo a morte de Michael Jackson. Logo depois rezei uma Ave-Maria pela sua alma, que ela encontre a paz que tanto anelava nesta terra.
A morte de Michael Jackson é a morte do homem plenamente moderno. É o sinal mais do que evidente de falência da mentalidade que nos circunda. A morte de Michael Jackson é verdadeiramente a morte do homem. Porque Michael Jackson é mais do que o símbolo, mas é a evidência mais perfeita da nossa época, a era mais tenebrosa e gélida de toda a História. A vida (e a morte) - se quisermos ser sábios - de Michael Jackson têm muito a nos ensinar, porque Michael Jackson é "a mais fina flor da época moderna". Michael Jackson, plenamente moderno, colheu todos os frutos das promessas da nossa época: fama e sucesso, mas também solidão e abandono. Um dos homens mais famosos do mundo morreu triste, solitário e endividado.
Ontem eu vi no jornal que "Michael Jackson não soube lidar com a fama". Isto não é verdade! A mídia simplesmente o destruiu, tão-somente porque ela precisa disso, precisa erigir seus ídolos e depois destrui-los, como por exemplo faz agora com Amy Winehouse, dá lucro para a grande mídia os escândalos e as bizarrices desses grandes famosos.
Mas o que está em jogo aqui é muito mais profundo do que tudo isso. O que está em jogo é a concepção de homem.
O que é o homem? O que pode torná-lo feliz?
Será mesmo que o homem não tem uma natureza e é completamente maleável, como ensina a mentalidade dominante? Será que podemos impor à realidade os nossos caprichos sem ter que pagar nada por isso? Será que o caminho da felicidade não é um dado objetivo, mas é definido pelos nossos caprichos e infantilidades? O que está em jogo aqui é isso, e Michael Jackson foi a pessoa que mais levou a longe (ou melhor a sério) os preceitos modernos. Porque, por mais que nos afirmemos "modernos", somos muito tradicionais, objetivos, por mais que defendamos certas coisas nos discursos - graças ao fenômeno da paralaxe cognitiva (que é a separação entre a razão e a experiência, a vida e o pensamento) - somos muito mais objetivos e aderentes ao real do que imaginamos.
A morte prematura de Michael Jackson é a morte prematura do humano. E o humano morre prematuramente porque vem sendo agredido, vem sendo destruído, dilacerado por ideologias burguieso-radicais, como a sociologia do conhecimento, que em nome de um relativismo absoluto (o que é uma contradição em termos, ou seja, um absurdo), afirmam que não há natureza humana e que tudo não passa de uma mera construção social. Michael Jackson é mais fina flor de tudo isso.
Ontem, eu fiquei observando o famoso clip "Thriller". Aqueles zumbis que aparecem ali não surgem à toa. Porque a arte não é algo aleatório. A arte é a expressão do humano, e a expressão do humano que vive agora, ou seja, expressão da época e do meio no qual vivemos. Trocando em miúdos, isto significa que aqueles zumbis são a expressão perfeita do estado humano das pessoas da nossa época: zumbis, qeu servem a um poder, sem pensar, como admiravelmsnte os Cranberries cantam em Zombie (1994): http://www.youtube.com/watch?v=HJEySrDerj0.
Sem sombra de dúvida, Michael Jackson foi um grande artista, e não é sem razão de ser que ele encarnou perfeitamente o espírito da época e lhe deu vazão e expressão, consciente ou inconscientemente. Mas Michael confirma aquilo que outro grande artista, o poeta Bruno Tolentino (1940-2007) já disse: "o artista é aquele que tem uma fome e sede de verdade, de beleza, de felicidade, de liberdade muito grandes, que o incomodam instante após instante, e que entram em decadência se não encontram a resposta".
Michael Jackson inconscientemente é um profeta. Sua vida é um grito. Ela é a prova mais evidente de que algo está muito errado em nossa época, em nossa culturas, no modo de conceber a nós mesmos e aos outros. Algo está muito errado na era mais gélida e terrível da História, esta era de solidão e desamor. Que este apelo não seja ignorado. E que possamos reconstruir o novo nos escombros do velho."
(Dimitri Martins)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Testemunho: "Um encontro para todos"

"Eu tenho 20 anos, sou evangélica e pertenço à Igreja Metodista no Brasil. Conheci a Associação dos Trabalhadores Sem Terra há três anos e desde então muita coisa mudou em minha vida pessoal e profissional. Muitos conceitos que adotei em minha vida como 'verdades absolutas', descobri que não passavam de um meio de subjugar as pessoas que pensavam diferente de mim. Percebi que minha fé em Jesus Cristo estava sendo instrumento de segregação e não de união com as pessoas. Hoje, após conhecer pessoas como Marco e Cleuza, pude entender que a religiosidade mata, mas a fé verdadeira em Jesus Cristo faz ressuscitar.
Conhecer a verdade que liberta é adotar uma postura diferente diante da sociedade consumista e individualista e principalmente não ser mais um incentivador do preconceito religioso. Eu era uma propagadora da intolerância religiosa. Hoje, oro a Deus para que minha vida seja testemunho vivo de que a graça que me salvou, salva toda a humanidade e que graça é amor. Somos todos remidos pelo mesmo sangue e salvos pelo mesmo amor, somos irmãos, filhos do mesmo Pai.
Gostaria ainda de agradecer a Deus pela vida de Marcos e Cleuza, por dedicarem suas vidas a ajudar pessoas que como eu não teriam conseguido cursar uma faculdade, e graças a esse amor que Deus faz brotar em seus corações, fundaram uma Associação para nos ajudar a construir um futuro diferente, não só para nós, mas para todos que ainda virão. Agradeço a Jesus Cristo pela vida de todos os padres membros do Movimento Comunhão e Libertação que, inspirados por Deus, transmitem experiências tão marcantes que nos fazem refletir sobre o rumo que nossas vidas têm tomado."


Natália, São Paulo-SP
(Revista Passos. Junho, 2009)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Cartas do Pe. Aldo 73


Asunción, 13 de junho de 2009.

Voltei hoje, dia de Corpus Christi, dos Exercícios (refere-se aos Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação; ndt). A comoção ao escutar as palavras feitas carne na minha vida e na dos meus doentes é bem expressa na foto de Marciana, circundada por suas últimas pinturas. Ela já está no fim e a cor dominante do “lapacho” (é como é conhecido o ipê no Paraguai; ndt) – uma planta tropica que, quando floresce, indica que a primavera está chegando – é roxo (morado, em espanhol).
Normalmente, os lapachos têm quatro cores e florescem em semanas diferentes, porém todos florescem no fim do “inverno tropical” e indicam que em breve chegará o calor tórrido. As cores são: rosa, roxo, amarelo e branco. Um espetáculo que veste de festa Asunción. Marciana, agora, ressalta o roxo porque está sentindo que se aproxima o encontro definitivo com Jesus. A fé é uma certeza. Não uma lamentação, não uma objeção. A esperança – somente quem vive a esperança consegue pintar até o fim com a ajuda do pai – é, para ela, o já da fé que toca com as mãos e vê com os olhos. Está quase acabada: pesa pouquíssimo, respira com dificuldade, as belas unhas pintadas de vermelho são como buquês de flores. Toda a sua feminilidade está presente... somente a fé que, como nos provoca Carrón, não é um sentimento, mas o reconhecimnto de um fato presente, realiza aquilo que o nosso ceticismo coloca em dúvida ou pensa que não pode durar, e vencer também o câncer e o medo da morte.
Amigos, Marciana é uma metástase só, mas a fé vence as terríveis dores do câncer. Aquilo que a morfina não consegue fazer, nela a fé consegue, até o ponto de conseguir pintar. Então, como não sermos gratos a Carrón que, desde a primeira noite (dos Exercícios da Fraternidade; ndt) nos dizia que “as circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são fator essencial e não secundário da nossa vocação”.
É, de fato, belo olhar para Marciana e para Paulo, porque eles nos dizem que Cristo está vivo. Olhem para Paulo (22 anos... Marciana tem 20): olhem o tamanho do câncer que ele carrega nas costas. Um enorme pedaço de carne podre... porém, olhem para o seu sorriso. Está é a fé, a esperança e a caridade.
Assim, entendo o que quer dizer “da fé, um método” (título dos Exercícios da Fraternidade deste ano; ndt): um caminho feliz mesmo se carregado por um tumor maligno de quase 5Kg ou por uma metástase geral.
Amigos, obrigado! Tudo isso nos é dado porque, de fato, é mesmo possível “viver verdadeiramente assim” (faz referência ao título da obra de Giussani – Si può (veramente!) vivere così?; ndt)
P.e Aldo