Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A glória de Deus é o homem que vive - Luigi Giussani



Naquela tarde, Jesus foi interrompido, parado no seu caminho em direção ao vilarejo ao qual se dirigia, ao qual se destinava, porque havia um choro altíssimo de mulher, com um grito de dor que feria o coração de todos os presentes, mas que feriu, feriu sobretudo o coração de Cristo.
“Mulher, não chores!” Uma mulher jamais vista, jamais encontrada antes.
“Mulher, não chores!” Que apoio podia ter aquela mulher que escutava a palavra que Jesus dizia?

“Mulher, não chores!”: quando se volta para casa, quando se vai de metrô, quando se sobre no ônibus, quando se vê a fila de carros pelas ruas, quando se pensa em todo o amontoado de coisas que interessam a vida de milhões de milhões de homens, de centenas de milhões de homens... Como é decisivo o olhar que uma criança ou um adulto “adulto” teriam dirigido àquele homem, o qual vinha à frente de um grupinho de amigos e que jamais tinha visto aquela mulher, mas que parou quando o som, o revérbero daquele choro chegou até Ele! “Mulher, não chores!”, como se ninguém a conhecesse, como se ninguém a reconhecesse mais intensamente, mais totalmente, mais definitivamente do que Ele!

“Mulher, não chores!”. Quando vemos – como falei antes – toda a movimentação do mundo, em cujo rio, em cujos riachos todos os homens se fazem presentes à vida, tornam a vida presente a si mesmos, a incógnita do fim nada mais é que a incógnita da maneira como chegaram a essa novidade, aquela novidade que faz encontrar um homem, faz encontrar um homem jamais visto, o qual, perante a dor da mulher que vê pela primeira vez, lhe diz: “Mulher, não chores!”

“Mulher, não chores!”: é esse o coração com o qual somos colocados diante do olhar e diante da tristeza, diante da dor de todas as pessoas com as quais nos relacionamos, pela rua ou na viagem, nas nossas viagens.

“Mulher, não chores!”. Que coisa inimaginável é que Deus – “Deus”, Aquele que faz o mundo inteiro neste momento -, vendo e ouvindo o homem, possa dizer: “Homem, não chores!”, “Você, não chore!”. “Não chore, porque não é para a morte mas para a vida que eu o fiz! Eu o coloquei no mundo, e o coloquei numa companhia grande de pessoas!”.
Homem, mulher, rapaz, moça, você, vocês, não chorem! Não chorem! Existe um olhar e um coração que os penetra até à medula dos ossos e que os ama até o seu destino, um olhar e um coração que ninguém pode desviar, ninguém pode tornar incapaz de dizer o que pensa e o que sente, ninguém pode tornar impotente!
“Gloria Dei vivens homo”. A glória de Deus, a grandeza dAquele que faz as estrelas do céu, que coloca no mar, gota por gota, todo o azul que o define, é o homem que vive.

Não há nada que possa suspender aquele ímpeto imediato de amor, de apego, de estima, de esperança. Porque tornou-se esperança para cada um que O viu, que ouviu: “Mulher, não chores!” que ouviu Jesus dizer assim: “Mulher, não chores!”.
Nada pode deter a certeza de um destino misterioso e bom!

Nós estamos juntos dizendo-nos: “Você aí, eu nunca o vi, não sei quem você é: não chore!”. Porque o choro é o seu destino, parece ser o seu destino inevitável: “Homem, não chores!”

“Gloria Dei vivens homo”: a glória de Deus – aquela por meio da qual sustenta o mundo, o universo – é o homem que vive, todo homem que vive: o homem que vive, a mulher que chora, a mulher que sorri, a criança, a mulher que morre mãe.

“Gloria Dei vivens homo”. Nós queremos isto e nada mais que isto, que a glória de Deus se manifeste a todo o mundo e alcance todos os âmbitos da terra: as folhas, todas as folhas das flores e todos os corações dos homens. Nunca nos vimos, mas é isto o que vemos e sentimos entre nós. Tchau!

(Colocação conclusiva de Dom Luigi Giussani: Exercícios da Fraternidade de CL, Rímini – Itália, 05/05/2002)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Expandir a razão - Julián Carrón

A questão da fé não está relacionada com o que não vemos,
mas com o que vemos, que tocamos, que experimentamos
que nos obriga a expandir a razão e a nos deixar arrastar,
magnetizar por essa presença boa que entra na vida.

Quem é que aceita esse desafio que vem do real,
de um real tão imponente, tão excepcional?
O que é que nos permite conhecer sem reduzir,
sem impor uma medida nossa para não perder o melhor?

Dom Giussani nos repetiu todos os dias:
"O Cristianismo apresenta assim o seu grande 'inconveniente':
exige 'homens' para ser entendido e vivido.

Homens: aquele nível da natureza no qual ela adquire consciência de si.

Se a humanidade não vibra, não há persuasão de discurso religioso que resista.
O Cristianismo não tem outra 'arma' a não ser o ser humano enquanto vive como tal..."

(Julián Carrón - Exercícios da Fraternidade. Rímini, 2008)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Negação de São Pedro - Duccio de Buoninsegna

"... Mas a misericórdia do Senhor está justamente na paciência com que, ao longo do tempo, repete as coisas, ao longo do tempo faz-nos repetir as coisas; repetindo e repetindo, sentindo uma pedrada na cabeça e depois mais outra, e mais outra ainda, finalmente estas palavras penetram no nosso cérebro, até começar a penetrar no coração. Primeiro penetram no cérebro e, por isso, não querem dizer ainda quase nada, mas depois penetram no coração e, então, começam a querer dizer algo..."

(Luigi Giussani, É Possível Viver Assim? - Editora Nova Fronteira, 1998, pg 164)