Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

Os Discípulos (Eugene Burnand, 1898)

sábado, 18 de julho de 2009

Estrela da vida inteira (Manuel Bandeira)

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há
milênios.
E o risco brevíssimo - que foi? passou - de
tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase e os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cartas do Pe. Aldo 83

Asunción, 05 de julho de 2009.

Caros amigos,
Estou no avião, voltando de São Paulo, depois de dois dias de convivência com estes amigos excepcionais (no sentido que Giussani e Carrón nos ajudam a entender quando usam este adjetivo): Marcos, Cleuza, os coordenadores do movimento, Padre Julián, Alexandre, Enzo etc.
Estou “felicíssimo”, comovido como, naquele dia, os apóstolos ficaram, no Tabor, ou quando, pela primeira vez, encontrei Giussani na Via Martinengo, ou quando encontrei Julián Carrón, aqui em São Paulo, há dois anos atrás. Comigo, vieram Carlos Samudio, responsável da Companhia das Obras no Paraguai, e Tonino Saladino. Também para eles foi uma comoção incrível. Saladino renasceu, viu o que é o movimento, viu aquilo que o seu coração desejava, reencontrou a juventude, a ternura por si mesmo. Mas, deixarei que ele escreva para vocês o que lhe aconteceu.

1. Uma amizade excepcional que nasce do reconhecimento de Carrón como pai, como a continuidade histórica de Giussani. Muitos me perguntam, mesmo no Brasil: “O que tocou mais a você naquilo que Carrón disse nos Exercícios?”. A minha resposta é: “o seu modo de viver a fé, a sua paixão por Cristo e, portanto, pelo humano, pela humanidade de cada um, a sua capacidade de apontar os Zerbini como o sinal mais claro da presença de Cristo, do que o Movimento, desafiando, assim, o nosso ceticismo”.
Exemplos dessa amizade excepcional. Cheguei a São Paulo na quinta-feira à noite com Tonino e Carlos. Os Zerbini estavam me esperando. Três coisas me deixaram literalmente sem palavras:
a) Marcos estava usando uma camisa de Ao-Poi (um tecido típico do Paraguai), que eu lhe havia presenteado 15 dias atrás. Cleuza me disse: “Esta manhã, quando se levantou, eu o vi fuçando no armário e lhe perguntei: ‘Marcos, o que está procurando?’; e ele respondeu: ‘Hoje, chega o amigo P.e Aldo e quero recebê-lo usando a camisa que ele me deu de presente”. O que eu poderia dizer? E, além do mais, sendo um deputado, ele tinha um monte de trabalho para fazer.
b) Naquela tarde, tinha um compromisso com o governador do Estado de São Paulo (que tem 38 milhões de habitantes) e com o cônsul italiano. Chegou ao compromisso com uma hora de atraso. O governador lhe perguntou: “Marcos, por que este atraso (eles são amigos)?”. E Marcos respondeu: “Precisava ir receber o meu caro amigo Padre Aldo, porque tenho necessidade de estar com quem me lembra Jesus, com quem vive a consciência do Mistério”. Eu lhes conto essas coisas com vergonha e porque vocês são meus amigos... mas, onde, hoje, podemos encontrar homens com esta estatura? E o governador ficou tocado. Como gostaria que todos os meus amigos compreendessem porque Carrón nos indica este homem, Marcos, e Cleuza!
c) A sopa para o Padre Aldo. De noite, depois da Escola de Comunidade com o amigo P.e Julián, da qual participaram mais de 100 pessoas, todos tomaram sopa. Aquilo que se arrecada é para as Casinhas de Belém: mil dólares também neste mês de julho. Mas, por que para as Casinhas de Belém, com todas as necessidades que eles têm? “Porque a Escola de Comunidade precisa originar um gesto de caridade. E a caritativa da sopa é para recordar os nossos amigos, os rostos dos nossos amigos do Paraguai”. A caritativa como memória de um rosto ou de rostos! É uma coisa, de fato, nova para mim.
2. A participação na Escola de Comunidade, no sábado de manhã. Às 6h, Cleuza “toca”, com a sua voz, o despertador. Café da manhã à brasileira e, logo em seguida, pegamos o rumo para o galpão (3 mil lugares), porque às 7h (era sábado, entendem?!!) começava a primeira Escola de Comunidade. Que surpresa: centenas de jovens, centenas de belas moças – mas belas mesmo! como as brasileiras sabem ser! – correm com o rosto alegre, mesmo que cansados. Cleuza me diz: “Muitos trabalham até a uma da manhã, outros se levantaram às 4h... moram nos quatro cantos de São Paulo (que tem 18 milhões de habitantes)”. Olho, rezo e penso em Giussani que vê, do céu, o reflorescer do Movimento, vê reacontecer aquilo que ele frequentemente repetia para nós: “É necessário criar um movimento no Movimento”. Agradeço a Deus pelo dom de Carrón, que nos indica Marcos e Cleuza para olhar.
Às 7h os salão estava cheio: 3 mil jovens. Uma ordem e um silêncio precisos. Quem chegava um minuto depois era deixado para fora. E alguns permaneciam do lado de fora... olhei para seus rostos e estavam tristes, porque deveriam voltar só no próximo mês. Cleuza me viu preocupado e me disse: “Padre Aldo, hoje, daremos uma anistia para os atrasados, porque você está conosco”. Eu lhe agradeci e os vi felizes.
Uma coisa me tocou, porque é sinal do coração de Cleuza: perto do banheiro se assentaram várias garotas grávidas ou com problemas de saúde. Cleuza me disse: “Olha, reservamos este lugar para elas, que precisam do banheiro mais frequentemente. Assim, estando aqui, não precisam percorrer todo o salão e atrapalhar o silêncio”. Que atenção à pessoa!
Começa a assembléia. A pergunta que fizeram no mês anterior (a assembléia é mensal) era: “Como você está construindo o seu eu?”. Intervenções em cascata, mas não palavras... febre de vida. Marcos guia e responde de modo claro, simples e preciso às perguntas que são fatos da vida. Fatos muitas vezes dolorosos. Uma pergunta: “Quero entender como faço para saber se uma coisa corresponde ou não ao meu coração”. Uma pergunta belíssima, porque parte de um dos 3 mil jovens que não estão “habituados” às coisas que nos dizemos. Frescor, simplicidade, vida. Uma festa de perguntas que querem saber o por quê de tudo.
Não me dei conta e, quando vi, já era a hora da segunda assembléia... outros 3 mil jovens... e, assim, a cada três horas, até domingo à noite. Vim embora com o os olhos cheios e o coração transbordante.

Num mundo onde todos analisam a questão da juventude, se fazem documentos... Aqui, pelo contrário, é tudo simples. Aqui, uma só coisa é evidente: Marcos e Cleuza vivem aquilo que Giussani e Carrón nos testemunharam sempre: uma febre de vida que nasce da paixão por Cristo. Tenho apenas um desejo no coração: "Senhor, faça-me, de verdade, uma só coisa contigo, como Marcos e Cleuza o são"... porque este é o único problema verdadeiro da vida: a fé.
Todas as intervenções sublinhavam duas coisas: o Mistério e a Associação como respostas à necessidade deles. Diziam tudo com este binômio que, na realidade, é uma coisa só: da fé, um método.

Caros amigos, boas férias... recordemo-nos que, deste lado do mundo existe, de verdade, há um outro mundo que vibra, cresce e nos dá um novo coração, porque é mesmo profético para todos e para o mundo inteiro aquilo que está acontecendo em São Paulo. Como Giussani deve estar feliz no céu... vendo, finalmente, realizar-se aquilo que ele sempre disse e que eu escutei, em Viterbo, nos anos 70, pela primeira vez num encontro com professores: “É preciso que nasça um movimento no Movimento”. Mas, para isto, existe um caminho real: seguir Carrón e aquilo que ele nos repete todos os dias. Marcos e Cleuza são filhos de Carrón e este é o coração da questão. Mas – pensem! –, um povo de mais de 100 mil pessoas, que segue duas pessoas simples como a água, humildes e de uma obediência cheia de liberdade a Carrón, o nome mais conhecido no meio desta gente.
O amigo Tonino Saladino, que está comigo há um mês, está também felicíssimo e comovido... não podia acreditar nos seus olhos. Reencontrou o frescor do início, como repete para todos com quem se encontra ou para quem telefona.
Com afeto,
Aldo

domingo, 28 de junho de 2009

Michael Jackson e a destruição do homem (por Dimitri Martins)

"Ontem, por volta das nove da noite, eu acordei. Dormi a partir das oito porque acordei às cinco e meia da manhã enquanto fui dormir às uma e meia do dia anterior. Vi que uma amiga minha tinha me ligado e retornei a ligação. Além do convite para uma festa, ela me contou que Michael Jackson tinha morrido. Eu tomei um susto. Imediatamente fiquei abalado, e depois me surpreendi chorando à meia-noite vendo no Jornal da Globo a morte de Michael Jackson. Logo depois rezei uma Ave-Maria pela sua alma, que ela encontre a paz que tanto anelava nesta terra.
A morte de Michael Jackson é a morte do homem plenamente moderno. É o sinal mais do que evidente de falência da mentalidade que nos circunda. A morte de Michael Jackson é verdadeiramente a morte do homem. Porque Michael Jackson é mais do que o símbolo, mas é a evidência mais perfeita da nossa época, a era mais tenebrosa e gélida de toda a História. A vida (e a morte) - se quisermos ser sábios - de Michael Jackson têm muito a nos ensinar, porque Michael Jackson é "a mais fina flor da época moderna". Michael Jackson, plenamente moderno, colheu todos os frutos das promessas da nossa época: fama e sucesso, mas também solidão e abandono. Um dos homens mais famosos do mundo morreu triste, solitário e endividado.
Ontem eu vi no jornal que "Michael Jackson não soube lidar com a fama". Isto não é verdade! A mídia simplesmente o destruiu, tão-somente porque ela precisa disso, precisa erigir seus ídolos e depois destrui-los, como por exemplo faz agora com Amy Winehouse, dá lucro para a grande mídia os escândalos e as bizarrices desses grandes famosos.
Mas o que está em jogo aqui é muito mais profundo do que tudo isso. O que está em jogo é a concepção de homem.
O que é o homem? O que pode torná-lo feliz?
Será mesmo que o homem não tem uma natureza e é completamente maleável, como ensina a mentalidade dominante? Será que podemos impor à realidade os nossos caprichos sem ter que pagar nada por isso? Será que o caminho da felicidade não é um dado objetivo, mas é definido pelos nossos caprichos e infantilidades? O que está em jogo aqui é isso, e Michael Jackson foi a pessoa que mais levou a longe (ou melhor a sério) os preceitos modernos. Porque, por mais que nos afirmemos "modernos", somos muito tradicionais, objetivos, por mais que defendamos certas coisas nos discursos - graças ao fenômeno da paralaxe cognitiva (que é a separação entre a razão e a experiência, a vida e o pensamento) - somos muito mais objetivos e aderentes ao real do que imaginamos.
A morte prematura de Michael Jackson é a morte prematura do humano. E o humano morre prematuramente porque vem sendo agredido, vem sendo destruído, dilacerado por ideologias burguieso-radicais, como a sociologia do conhecimento, que em nome de um relativismo absoluto (o que é uma contradição em termos, ou seja, um absurdo), afirmam que não há natureza humana e que tudo não passa de uma mera construção social. Michael Jackson é mais fina flor de tudo isso.
Ontem, eu fiquei observando o famoso clip "Thriller". Aqueles zumbis que aparecem ali não surgem à toa. Porque a arte não é algo aleatório. A arte é a expressão do humano, e a expressão do humano que vive agora, ou seja, expressão da época e do meio no qual vivemos. Trocando em miúdos, isto significa que aqueles zumbis são a expressão perfeita do estado humano das pessoas da nossa época: zumbis, qeu servem a um poder, sem pensar, como admiravelmsnte os Cranberries cantam em Zombie (1994): http://www.youtube.com/watch?v=HJEySrDerj0.
Sem sombra de dúvida, Michael Jackson foi um grande artista, e não é sem razão de ser que ele encarnou perfeitamente o espírito da época e lhe deu vazão e expressão, consciente ou inconscientemente. Mas Michael confirma aquilo que outro grande artista, o poeta Bruno Tolentino (1940-2007) já disse: "o artista é aquele que tem uma fome e sede de verdade, de beleza, de felicidade, de liberdade muito grandes, que o incomodam instante após instante, e que entram em decadência se não encontram a resposta".
Michael Jackson inconscientemente é um profeta. Sua vida é um grito. Ela é a prova mais evidente de que algo está muito errado em nossa época, em nossa culturas, no modo de conceber a nós mesmos e aos outros. Algo está muito errado na era mais gélida e terrível da História, esta era de solidão e desamor. Que este apelo não seja ignorado. E que possamos reconstruir o novo nos escombros do velho."
(Dimitri Martins)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Testemunho: "Um encontro para todos"

"Eu tenho 20 anos, sou evangélica e pertenço à Igreja Metodista no Brasil. Conheci a Associação dos Trabalhadores Sem Terra há três anos e desde então muita coisa mudou em minha vida pessoal e profissional. Muitos conceitos que adotei em minha vida como 'verdades absolutas', descobri que não passavam de um meio de subjugar as pessoas que pensavam diferente de mim. Percebi que minha fé em Jesus Cristo estava sendo instrumento de segregação e não de união com as pessoas. Hoje, após conhecer pessoas como Marco e Cleuza, pude entender que a religiosidade mata, mas a fé verdadeira em Jesus Cristo faz ressuscitar.
Conhecer a verdade que liberta é adotar uma postura diferente diante da sociedade consumista e individualista e principalmente não ser mais um incentivador do preconceito religioso. Eu era uma propagadora da intolerância religiosa. Hoje, oro a Deus para que minha vida seja testemunho vivo de que a graça que me salvou, salva toda a humanidade e que graça é amor. Somos todos remidos pelo mesmo sangue e salvos pelo mesmo amor, somos irmãos, filhos do mesmo Pai.
Gostaria ainda de agradecer a Deus pela vida de Marcos e Cleuza, por dedicarem suas vidas a ajudar pessoas que como eu não teriam conseguido cursar uma faculdade, e graças a esse amor que Deus faz brotar em seus corações, fundaram uma Associação para nos ajudar a construir um futuro diferente, não só para nós, mas para todos que ainda virão. Agradeço a Jesus Cristo pela vida de todos os padres membros do Movimento Comunhão e Libertação que, inspirados por Deus, transmitem experiências tão marcantes que nos fazem refletir sobre o rumo que nossas vidas têm tomado."


Natália, São Paulo-SP
(Revista Passos. Junho, 2009)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Cartas do Pe. Aldo 73


Asunción, 13 de junho de 2009.

Voltei hoje, dia de Corpus Christi, dos Exercícios (refere-se aos Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação; ndt). A comoção ao escutar as palavras feitas carne na minha vida e na dos meus doentes é bem expressa na foto de Marciana, circundada por suas últimas pinturas. Ela já está no fim e a cor dominante do “lapacho” (é como é conhecido o ipê no Paraguai; ndt) – uma planta tropica que, quando floresce, indica que a primavera está chegando – é roxo (morado, em espanhol).
Normalmente, os lapachos têm quatro cores e florescem em semanas diferentes, porém todos florescem no fim do “inverno tropical” e indicam que em breve chegará o calor tórrido. As cores são: rosa, roxo, amarelo e branco. Um espetáculo que veste de festa Asunción. Marciana, agora, ressalta o roxo porque está sentindo que se aproxima o encontro definitivo com Jesus. A fé é uma certeza. Não uma lamentação, não uma objeção. A esperança – somente quem vive a esperança consegue pintar até o fim com a ajuda do pai – é, para ela, o já da fé que toca com as mãos e vê com os olhos. Está quase acabada: pesa pouquíssimo, respira com dificuldade, as belas unhas pintadas de vermelho são como buquês de flores. Toda a sua feminilidade está presente... somente a fé que, como nos provoca Carrón, não é um sentimento, mas o reconhecimnto de um fato presente, realiza aquilo que o nosso ceticismo coloca em dúvida ou pensa que não pode durar, e vencer também o câncer e o medo da morte.
Amigos, Marciana é uma metástase só, mas a fé vence as terríveis dores do câncer. Aquilo que a morfina não consegue fazer, nela a fé consegue, até o ponto de conseguir pintar. Então, como não sermos gratos a Carrón que, desde a primeira noite (dos Exercícios da Fraternidade; ndt) nos dizia que “as circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são fator essencial e não secundário da nossa vocação”.
É, de fato, belo olhar para Marciana e para Paulo, porque eles nos dizem que Cristo está vivo. Olhem para Paulo (22 anos... Marciana tem 20): olhem o tamanho do câncer que ele carrega nas costas. Um enorme pedaço de carne podre... porém, olhem para o seu sorriso. Está é a fé, a esperança e a caridade.
Assim, entendo o que quer dizer “da fé, um método” (título dos Exercícios da Fraternidade deste ano; ndt): um caminho feliz mesmo se carregado por um tumor maligno de quase 5Kg ou por uma metástase geral.
Amigos, obrigado! Tudo isso nos é dado porque, de fato, é mesmo possível “viver verdadeiramente assim” (faz referência ao título da obra de Giussani – Si può (veramente!) vivere così?; ndt)
P.e Aldo

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cartas do Pe. Aldo 65


Asunción, 11 de fevereiro de 2009.

Olhem que milagre: Celeste!
Os médicos disseram: “veio para ser enterrada e, agora, não é mais uma doente terminal. Estava pior do que Eluana quando chegou e, agora, olhem para ela: que bela! Que alegre!”.
Amigos, Giussani continua a me escutar.
De fato, o homem é um mistério e a realidade é o lugar onde se manifesta.
É mesmo bela a minha Celeste!
Pe. Aldo
(Fonte: http://prapacheco.blogspot.com/)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Papa deixa mensagem especial aos jovens palestinos


Bento XVI chegou à Faixa de Gaza na manhã de 13 de maio de 2009, onde declarou o apoio da Santa Sé à constituição de um Estado palestino. O Papa apelou ainda aos jovens palestinos para que não se deixem contaminar pela violência de que foram testemunhas.

domingo, 10 de maio de 2009

O verdadeiro método para vencer a AIDS (by Dimitri Martins)

O verdadeiro método para vencer a AIDS é fazer com que as pessoas se sintam amadas

Artigo publicado no jornal eletrônico Ilsussidiario.net
Entrevista com Rose Busingye


Discutir o problema da Aids a partir da redação dos jornais e dos escritórios políticos das diversas instituições européias é uma coisa; discuti-lo tendo diante dos olhos a situação de dezenas de mulheres soropositivas, e de seus filhos que foram contagiados, é toda uma outra coisa. Rose Busingye dirige o Meeting Point de Kampala, um lugar de renascimento para 4 mil pessoas, entre doentes e órfãos, que de outro modo estariam condenados a viver no silêncio e no abandono o destino dos marcados pelo HIV. Neste local de intensa humanidade, as polêmicas sobre o uso do preservativo para abater o flagelo da Aids chegam como um eco de longe.

Rose, que efeito tem em você ouvir tantas vozes polêmicas em torno de um problema com o qual a senhora luta todos os dias?
Quem alimenta a polêmica em torno das declarações do Papa deve, na realidade, entender que o verdadeiro problema da difusão da Aids não é o preservativo; falar nisso significa parar nas consequências e não ir nunca à origem do problema. Na raiz da difusão do HIV está um comportamento, está um modo de ser. E, além disso, não nos esqueçamos de que a grande emergência é conseguir formas de cura para as tantas pessoas que já contraíram a doença, e para aquelas o preservativo não serve.


Porém, continua o fato de que, de qualquer modo, se pode fazer qualquer coisa para evitar que o contágio se difunda ulteriormente: neste caso, a prevenção não é um instrumento útil?
Retomo um exemplo, para fazer entender como, verdadeiramente, por vezes não nos damos conta da situação na qual vivemos na África. Há algum tempo atrás, vieram alguns jornalistas para fazer uma reportagem sobre a atividade do Meeting Point: viram a condição das mulheres soropositivas que estão aqui e se comoveram. Decidiram então fazer-se úteis, fazendo um pequeno gesto para elas: presentearam-nas com algumas caixas de preservativos. Vendo isto, uma das nossas mulheres, Jovine, os olhou e disse: “Meu marido está morrendo e tenho seis filhos que, em pouco tempo, serão órfãos: de que me servem estas caixas que vocês me dão?”. A emergência daquela mulher e de tantíssimas outras como ela, é ter alguém que a olhe e diga: “mulher, não chore!”. É absurdo pensar em responder à sua necessidade com uma caixa de preservativos, e o absurdo está em não ver que o homem é amor, é afetividade.

E quanto às pessoas que possam ter relações com outras e difundir o contágio?
Também aí vale o mesmo discurso: é necessário, antes de tudo, olhar a humanidade deles. Uma vez, estávamos falando aos nossos meninos da importância de proteger os outros, de evitar o contágio; um deles se pôs a rir, dizendo: “mas que me importa quem são os outros? Quem são as mulheres com quem saio?”. E um outro dizia: “também eu fui infectado, e agora?”. A Aids é um problema como todos os problemas da vida, que não se pode reduzir a um particular. É necessário, antes de tudo, partir do fato de que é preciso ser educado também no viver a sexualidade. Mas a educação remete à descoberta de si mesmo: a pessoa que é consciente de si, sabe que tem um valor que é maior que tudo. Sem a descoberta deste valor – de si e dos outros – não há nada que tenha. Também o preservativo, ao final, pode ser bem utilizado apenas por uma pessoa que tenha descoberto qual o valor do humano, se ama verdadeiramente e se é amada. Pensa-se talvez que onde o preservativo é distribuído não prossegue o contágio da Aids? Enfim, em certos casos o discurso do preservativo, nas condições nas quais nos encontramos, pode parecer até ridículo.

Em que sentido?
Há poucos dias, por exemplo, mostramos a nossas mulheres o que é o preservativo, explicando inclusive as instruções de uso: antes de usá-lo deve-se lavar as mãos, não deve haver pó, deve ser conservado a uma certa temperatura. Foram eles mesmo que me interromperam: lavar as mãos, quando para ter um pouco de água devemos andar vinte quilômetros a pé? E depois tem o problema do pó: até mesmo um grão qualquer pode ser perigoso e arriscar o rompimento do preservativo. Mas, essas mulheres quebram pedras da manhã à noite, e têm a pele das mãos secas, rachadas e duras como a rocha! Por isso, digo que se fala sem conhecer minimamente o problema e as condições na qual nos encontramos.

À luz desta difusa ignorância em relação aos problemas reais das pessoas que vivem na África, que efeito têm as polêmicas contra o Papa?
O Papa não faz outra coisa que defender e sustentar justamente aquilo que serve para ajudar esta gente: afirmar o significado da vida e a dignidade do ser humano. Aqueles que o atacam têm interesses a defender, enquanto que o Papa não os tem: nos quer bem e quer o bem da África. Não é dele que vêm as minas que lançam para os ares nossos meninos, nossas crianças que viram soldados, que se encontram amputados, sem orelha, sem boca, incapazes de deglutir a saliva: e a eles o que damos, os preservativos?

De fato, a Aids não é o único problema que atinge a África.
Existem muitíssimos outros problemas e situações trágicas sobre as quais há total indiferença. Quando, há alguns anos, ocorreu o genocídio em Ruanda, todos estavam observando. Aqui perto existe um país pequeniníssimo, que podia ser protegido e nada foi feito: lá estavam os meus parentes e morreram todos de modo desumano. Ninguém se moveu e agora vêm aqui com os preservativos. Mas, também no nível das doenças, vale o mesmo discurso: por que não nos trazem as aspirinas ou os remédios contra malária? A malaria é uma doença que aqui vitima mais pessoas que a Aids.

Qual a situação de agora, na Uganda, em relação à difusão da Aids?
Em Uganda se estão fazendo grandes progressos e o nosso presidente está trabalhando muito bem e obtendo ótimos resultados. O seu método não é apostar na difusão dos preservativos, mas na educação: instituiu um ministério para isso e colocou pessoas nas vilas de analfabetos para educá-las a uma mudança de vida. A esposa do presidente esteve aqui conosco há pouco tempo e disse com força que o verdadeiro ponto que pode fazer mudar a situação é parar de viver como os cães e os gatos, que devem sempre satisfazer a seus instintos; e falou do fato que o homem é dotado de razão, que o faz responsável por aquilo que realiza. Se o homem continua ligado ao instinto como um animal, dar a ele um preservativo não serve a nada. Mudar as condutas. Este é o método que está dando resultados e teve como consequência o fato de que a difusão da Aids em Uganda baixou de 18% a 3% da população. O método funciona e o coração do método é fazer de um modo tal que as pessoas se sintam queridas. O vemos aqui, no Meeting Point: quando as pessoas chegam aqui não querem mais ir embora.
Fonte: http://dimitrimartins.blogspot.com/

terça-feira, 5 de maio de 2009

Meu Deus (O Estado de São Paulo)

Notícias escondidas na grande mídia IV
"As loiras se divertem mais", dizia um slogan publicitário, acho que de tintura para cabelos, anos atrás. Não sei se loiras naturais ou artificiais se divertem mesmo mais, sei que os céticos se divertem menos. Ser um cético na vida significa renunciar a tudo que maravilha e consola os que acreditam.
Na falta de argumentos racionais para o "anti-racionalismo" (ou seja, o "eu" religioso; nde) se pode dizer que o ateísmo não oferece nada parecido, em drama e beleza, como o grande circo místico das crenças e das narrativas religiosas, que além de encantarem ainda prometem a salvação - e não vamos nem falar no teto da Capela Sistina, que nenhum ateu faria igual. O ateísmo é aborrecido como um mundo sem loiras.
(Veríssimo, 20.set.2007 - in passos nº88)

domingo, 26 de abril de 2009

Das cinzas da guerra à educação

Em Serra Leoa, os dez anos da guerra civil dificilmente serão esquecidos. Principalmente por quem - criança ou adolescente - foi recrutado à força entre os rebeldes e habituado a uma violência inaudita. As consequências para o país ainda pesam: o analfabetismo ultrapassa 60% e Serra Leoa se classifica na posição de número 179 no índice de desenvolvimento humano. Exatamente esses índices tornam ainda mais preciosa a inauguração da nova escola secundária "Senior Holy Family", acontecida em 17 de fevereiro, em Mayenkineh, construída com a ajuda da Fundação AVSI. Estavam presentes com suas famílias os 1.200 alunos matriculados em todas as séries da instituição, desde o maternal até o ensino médio. A inauguração contou com a presença do Arcebispo da capital, Dom Edward Tamba Charles, que sublinhou a importância de conjugar a qualidade da instrução (estão em segundo lugar, na classificação nacional) aos preços baixos, que tornam a instituição acessível mesmo aos mais pobres. E isto é seguramente uma jóia para uma realidade que permite, a cada ano, que apenas 100 estudantes completem os estudos do ensino médio e acessem a universidade ou o mundo do trabalho.
Qual é o traço que distngue a Holy Family School? Ter no coração a cada um dos meninos e a sua felicidade. E os pais percebem isso e veem como, para os professores, cada aluno tem um valor. Normal? Não exatamente, quando se pensa que este é o país com a maior alta taxa de mortalidade infantil do mundo.
(Revista Passos - abril, 2009)

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa - Movimento de Comunhão e Libertação

“O homem tem para Deus um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue, como nos é demonstrado na narração da Paixão de Jesus... surgindo assim a estrela da esperança.” (Bento XVI)

“Deus se comoveu com o nosso nada, com a nossa traição, com a nossa rude pobreza, esquecida e traiçoeira pobreza, com a nossa mesquinhez.
Qual é a razão? ‘Eu te amei com um amor eterno, por isso tornei-te parte de mim, tendo piedade do teu nada’: o palpitar do coração é a piedade do seu nada, mas a razão é que você participasse do ser.”
(Luigi Giussani)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Terremoto em Abruzzo - Mensagem de Comunhão e Libertação

Paixão do homem, Paixão de Cristo

Mais uma vez fomos feridos no íntimo do nosso ser com mais um evento chocante. Tão chocante que é difícil evitar a pergunta sobre o seu significado, tanto ultrapassa a nossa capacidade de compreensão.

A questão é tão radical quanto incômoda. Não podemos tentar por um ponto final o mais rápido possível, ansiosos por virar a página o quanto antes para poder esquecer. Não é razoável manter-nos presos a uma emotividade que nos sufoca, e muito menos mudar o foco à busca de eventuais responsáveis.

A enorme caridade, que se documentou nestes dias como movimento espontâneo, e que será necessária principalmente nos próximos meses quando será preciso de mais ajuda, sugere que o esquecimento não é o único caminho. Nem mesmo esse movimento é capaz de eliminar a urgência do pedido, provocada pela experiência de nossa impotência diante do terremoto.

Acontecimentos deste tipo nos colocam diante do mistério da existência, provocando a nossa razão e a nossa liberdade de homens. Desperdiçar a oportunidade de olhar cara a cara para este acontecimento nos deixaria ainda mais perdidos e céticos. Porém, para estar diante do Mistério da existência, nós precisamos de algo mais do que a nossa solidariedade, por mais justa que ela seja. Sozinhos nós não somos capazes.

A companhia de Cristo – que está na origem do amor ao homem, próprio do nosso povo – revela-se mais uma vez decisiva na nossa história: uma companhia que dá sentido à vida e à morte, às vítimas, aos sobreviventes e a nós mesmos, e sustenta a esperança.

A iminência da Páscoa adquire, então, uma nova luz. “Quem não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele?” (Rm 8,32).

Comunhão e Libertação
Abril de 2009

Paixão de Cristo (Padre Pio)

"Espírito Divino iluminai a minha inteligência, inflamai o meu coração, enquanto medito na Paixão de Jesus. Ajudai-me a penetrar nesse mistério de amor e sofrimento do meu Deus, que, feito homem sofre, agoniza, morre por mim.
Ó Eterno, ó Imortal, descei até nós para sofrer um martírio inaudito, a morte infame sobre a cruz no meio dos insultos, de impropérios e ignomínias, a fim de salvar a criatura que o ultrajou e continua a atolar-se na lama do pecado.
O homem saboreia o pecado e, por causa do pecado, Deus está mortalmente triste; os tormentos duma agonia cruel fazem-no suar sangue!...
Não, não posso penetrar neste oceano de amor e de dor sem a ajuda da vossa graça, ó meu Deus.
Abri-me o acesso à mais íntima profundidade do coração de Jesus, para que eu possa participar da amargura que o conduziu ao Jardim das Oliveiras, até às portas da morte - para que me seja dado consolá-lo no seu extremo abandono.
Ah! Pudesse eu unir-me a Cristo, abandonado pelo Pai e por Si próprio, a fim de expirar com Ele! Maria, Mãe das Dores, permiti que eu siga Jesus e participe intimamente da sua Paixão e do seu sofrimento! Meu Anjo da guarda velai para que as minhas faculdades se concentrem todas na agonia de Jesus e nunca mais se desprendam...
No termo da sua vida terrestre, depois de se nos ter inteiramente entregue no Sacramento do seu amor, o Senhor dirige-se ao Jardim das Oliveiras, conhecido dos discípulos, mas de Judas também.
Pelo caminho ensina-os e prepara-os para a sua Paixão iminente convida-os, por Seu amor, a sofrer calúnias, perseguições até à morte, para os transfigurar à semelhança dele, modelo divino.
No momento de começar a sua Paixão amaríssima, não é nele que pensa; pensa em ti.
Que abismos de amor não contém o seu Coração! A sua Santa Face é toda tristeza, toda ternura.
As suas palavras jorram da profundidade mais íntima do seu coração, e são todas palpitação de amor.
- Ó Jesus, o meu coração perturba-se quando penso no amor que vos obriga a correr ao encontro da vossa Paixão.
Ensinastes-nos que não há amor maior que dar a vida por aqueles a quem se ama.
Eis que estáis prestes a selar estas palavras com o vosso exemplo.
No Jardim da Oliveiras, o Mestre afasta-se dos discípulos e só leva três testemunhas da sua Agonia: Pedro, Tiago e João.
Eles, que o viram transfigurado sobre o Tabor, terão força para reconhecer o Homem-Deus neste ser, esmagado pela angústia da morte? Ao entrar no Jardim disse-lhes: "Ficai aqui! Velai e rezai para não cairdes em tentação.
Acautelai-vos, porque o inimigo não dorme.
Armai-vos antecipadamente com as armas da oração para não serdes surpreendidos e arrastados para o pecado.
É a hora das trevas".
Tendo-os exortado, afastou-se à distância de uma pedrada e prostrou-se com a face em terra.
A sua alma está mergulhada num mar de amargura e extrema aflição.
É tarde.
Na lividez da noite agitam-se sombras sinistras.
A Lua parece injetada de sangue.
O vento agita as árvores e penetra até aos ossos.
Toda a natureza como que estremece de secreto pavor! Ó noite, como nunca houve outra semelhante.
Eis o lugar onde Jesus vem orar.
Ele despoja a sua santa Humanidade da força à qual tem direito pela sua união com a Divina Pessoa, e mergulha-a num abismo de tristeza, de angústia, de abjeção.
O seu espírito parece submergir-se...
Via antecipadamente toda a sua Paixão.
Vê Judas, seu apóstolo tão amado, que o vende por alguns dinheiros.
Ei-lo a caminho de Getsêmani, para o trair e entregar! Todavia, ainda há pouco não o alimentou com a sua carne, não lhe deu a beber o seu sangue? Prostrado diante dele, lavou-lhe os pés, apertou-os contra o coração, beijou-os com os seus lábios.
Que não fez ele para o reter à beira do sacrilégio, ou pelo menos para o levar a arrepender-se! Não! Ei-lo que corre para a perdição...
Jesus chora.
Vê-se arrastado pelas ruas de Jerusalém onde ainda há alguns dias o aclamavam como Messias.
Vê-se esbofeteado diante do sumo-sacerdote.
Ouve os gritos: À morte! Ele, o autor da vida, é arrastado como um farrapo de um para outro tribunal.
O povo, o seu povo tão amado, tão cumulado de bênçãos, vocifera contra Ele, insulta-o, reclama aos gritos a sua morte, e que morte, a morte sobre a cruz.
Ouve as suas falsa acusações.
Vê-se flagelado, coroado de espinhos, escarnecido, apupado como falso rei.
Vê-se condenado à cruz, subindo ao Calvário, sucumbindo ao peso do madeiro, trêmulo, exausto...
Ei-lo chegado ao Calvário, despojado das roupas, estendido sobre a cruz, impiedosamente trespassado pelos pregos, ofegante entre indizíveis torturas...
Meu Deus! Que longa agonia de três horas, até sucumbir no meio dos apupos da gentalha, ébria de cólera! Ei-lo com a garganta e as entranhas, devoradas por sede ardente.
Para estancar essa sede, dão-lhe vinagre e fel.
Vê o Pai que o abandona, e a Mãe, aniquilada pela dor.
Para acabar, a morte ignominiosa no meio de dois ladrões.
Um reconhece-o, e pôde salvar-se; o outro blasfema e morre réprobo.
Vê Longuinhos, que se aproxima para lhe trespassar o coração.
Ei-la, consumada, a extrema humilhação do corpo e da alma, que separam...
Tudo isto, cena após cena, passa diante dos seus olhos, apavora-o, acabrunha-o Recusará? Desde o primeiro instante tudo avaliou, tudo aceitou.
Porque, pois, este terror extremo? É que expôs a sua santa humanidade como escudo, captando os ataques da Justiça, ultrajada pelo pecado.
Sente vivamente no espírito, mergulhado na maior solidão, tudo o que vai sofrer.
Para tal pecado, tal pena...
Está aniquilado, porque se entregou, ele próprio, ao pavor, à fraqueza, à angústia.
Parece ter chegado ao auge da dor.
Está de rastos, com a face em terra, diante da Majestade do Pai.
Jaz no pó, irreconhecível, a santa Face do Homem-Deus, que goza da visão beatífica.
Meu Jesus! Não sois Deus? Não sois o Senhor do Céu e da Terra, igual ao Pai? Para que haveis de abaixar-vos até perder todo o aspecto humano? Ah, sim...
Compreendo! Quereis ensinar-me, a mim, orgulhoso, que para entender o Céu devo abismar-me até ao fundo da Terra.
É para expiar a minha arrogância que vos deixais afundar no mar da agonia.
É para reconciliar o Céu com a Terra que vos abaixais até à terra como se quisesseis dar-lhe o beijo da paz...
Jesus ergue-se, volve para o céu um olhar suplicante, ergue os braços, reza.
Cobre-lhe o rosto mortal palidez! Implora o Pai que se desviou dele.
Reza com confiança filial, mas sabe bem qual o lugar que lhe foi marcado.
Sabe-se vítima a favor de toda a raça humana, exposta à cólera de Deus ultrajado.
Sabe que só ele pode satisfazer a Justiça infinita e conciliar o Criador com a criatura.
Quer, reclama que seja assim.
A sua natureza, porém, está literalmente esmagada.
Insurge-se contra tal sacrifício.
Todavia, o seu espírito está pronto à imolação e o duro combate continua.
Jesus, como podemos pedir-vos para sermos fortes, quando vos vemos tão fraco e acabrunhado? Sim, compreendo! Tomastes sobre vós a nossa fraqueza.
Para nos dardes a vossa força, vos tornastes a vítima expiatória.
Quereis ensinar-nos como só em vós devemos depositar confiança, até quando o céu nos parece de bronze.
Na sua Agonia, Jesus clama ao Pai: "Se é possível, afasta de mim este cálix".
É o grito da natureza que, prostrada, recorre cheia de confiança ao Céu.
Embora saiba que não será atendido, porque não deseja sê-lo, contudo ora.
Meu Jesus, por que pedis o que não podeis obter? Que mistério vertiginoso! A mágoa que vos dilacera vos faz mendigar a ajuda e conforto, mas o vosso amor por nós e o desejo de nos levar a Deus vos faz dizer: "Não se faça a minha vontade, mas a tua".
O seu coração desolado tem sede de ser confortado, tem sede de consolação.
Docemente, Ele levanta-se, dá alguns passos vacilantes; aproxima-se dos discípulos; eles, pelo menos, os amigos de confiança, hão de compreender e partilhar da sua mágoa...
Encontra-os mergulhados no sono.
De súbito sente-se só, abandonado! "Simão, dormes?" pergunta docemente a Pedro.
Tu, que há pouco me dizias que querias seguir-me até à morte! Vira-se para os outros.
"Não podeis velar uma hora comigo?".
Uma vez mais, esquece os sofrimentos, não pensa senão nos discípulos: "Velai e orai para não cairdes em tentação!".
Parece dizer "Se me esquecestes tão depressa, a mim, que luto e sofro, pelo menos no vosso próprio interesse, velai e orai!".
Mas eles, tontos de sono, mal o ouvem.
Ó meu Jesus, quantas almas generosas, tocadas pelos vossos lamentos, vos fazem companhia no Jardim da Oliveiras, compartilhando da vossa amargura e da vossa angústia moral.
Quantos corações têm respondido generosamente ao vosso apelo através dos séculos! Possam eles vos consolar e, comparticipando do vosso sofrimento, possam eles cooperar na obra da salvação! Possa eu próprio ser desse número e vos consolar um pouco, ó meu Jesus! Jesus volta ao local da oração e apresenta-se-lhe diante dos olhos um outro quadro bem mais terrível.
Desfilam diante dele todos os nossos pecados, nos seus mais ínfimos pormenores.
Vê a extrema vulgaridade dos que os cometem.
Sabe a que ponto ultrajam a divina Majestade.
Vê todas as infâmias, todas as obscenidades, todas as blasfêmias que mancham os corações e os lábios, criados para cantar a glória de Deus.
Vê os sacrilégios que desonram Pais e fiéis.
Vê o abuso monstruoso dos sacramentos, instituídos por Ele para nossa salvação, e que facilmente podem ser causa de nos perdermos.
Tem de cobrir-se com toda a lama fétida da corrupção humana.
Tem de expiar cada pecado à parte, e restituir ao Pai toda a glória roubada.
Para salvar o pecador, tem de descer a esta cloaca.
Mas, isto não o detém.
Vaga monstruosa, essa lama rodeia-o, submerge-o, oprime-o.
Ei-lo em frente do Pai, Deus da Justiça, Ele, Santo dos Santos, vergado ao peso dos nossos pecados, tornando-se igual aos pecadores.
Quem poderá sondar o seu horror e a sua extrema repugnância? Quem compreenderá a extensão da horrível náusea, do soluço de desgosto? Tendo tomado todo o peso sobre ele, sem exceção alguma sente-se esmagado por monstruoso fardo, e geme sob o peso da Justiça divina, em face do Pai que permitiu ao Seu filho se oferecesse como vítima pelos pecados do mundo, e se transformasse numa espécie de maldito.
A sua pureza estremece diante desta massa infame mas ao mesmo tempo vê a Justiça ultrajada, o pecador condenado...
No seu coração defrontam-se duas forças, dois amores.
Vence a Justiça ultrajada.
Mas, que espetáculo infinitamente lamentável! Este homem, carregado com todos os nossos crimes.
Ele, essencialmente Santidade, confundido, embora exteriormente, com os criminosos...
Treme como um folha.
Para poder afrontar esta terrível agonia abisma-se na oração.
Prostrado diante da Majestade do Pai, diz: "Pai, afasta de mim este cálice".
É como se dissesse: "Pai, quero a tua glória! Quero o cumprimento da tua justiça.
Quero a reconciliação do gênero humano.
Mas não por este preço! Que eu, santidade essencial, seja assim salpicado pelo pecado, ah! não...
isso não! Ó pai, a quem tudo é possível, afasta de mim este cálice e encontra outro meio de salvação nos tesouros insondáveis da tua sabedoria.
Porém, se não quiseres, que a tua vontade, e não a minha, se faça! Desta vez ainda, fica sem efeito a prece do Salvador.
Sente a angústia mortal, ergue-se a custo em busca de consolação.
Sente como as forças o abandonam.
Arrasta-se penosamente até junto dos discípulos.
Uma vez mais, encontra-os a dormir.
A sua tristeza torna-se mais profunda.
E contenta-se simplesmente em os acordar.
Sentiram-se confusos? Sobre isto nada sabemos.
Só vemos Jesus indizivelmente triste.
Guarda para ele toda a amargura deste abandono.
Mas Jesus, como é grande a dor que leio no teu coração, transbordante de tristeza.
Vos vejo afastando-vos dos vossos discípulos, ferido, todo magoado! Pudesse eu dar-vos algum reconforto, consolar-vos um pouco...
mas, incapaz de mais nada, choro aos vossos pés.
Unem-se às vossas as lágrimas do meu amor e da minha compunção.
E elevam-se até ao trono do Pai, suplicando que tenha piedade de nós, que tenha piedade de tantas almas, mergulhadas no sono do pecado e da morte.
Jesus volta ao lugar onde rezara, extenuado e em extrema aflição.
Cai, sim, mas não se prostra.
Cai sobre a terra.
Sente-se despedaçado por angústia mortal e a sua prece torna-se mais intensa.
O Pai desvia o olhar, como se Ele fosse o mais abjeto dos homens.
Parece-me ouvir os lamentos do Salvador: Se, ao menos as criaturas por causa de quem eu tanto sofro quisessem aproveitar-se das graças obtidas através de tantas dores! Se, ao menos reconhecessem pelo seu justo valor, o preço pago por mim para resgatar e dar-lhes a vida de filhos de Deus! Ah! este amor despedaça-me o coração, bem mais cruelmente do que os carrascos que irão, em breve, despedaçar-me a carne...
Vê o homem que não sabe, porque não quer saber; e blasfema do Sangue Divino e, o que é bem mais irreparável, serve-se desse Sangue para sua condenação.
Quão poucos o hão de aproveitar, quantos outros correrão ao encontro do próprio extermínio! Na grande amargura do Seu coração, continua a repetir: "Quæ utilitas im sanguine meo? Quão poucos aproveitaram o meu Sangue! O pensamento, porém, deste pequeno número basta para afrontar a Paixão e morte.
Nada existe, não há ninguém que possa dar-lhe sombra de consolação.
O Céu fechou-se para Ele.
O homem, embora esmagado ao peso dos pecados, é ingrato e ignora o seu amor.
Sente-se submerso num mar de dor e grita no estertor da agonia: "A minha alma está triste até a morte".
Sangue Divino, que jorras, irresistivelmente do Coração de Jesus, corres por todos os seus poros para lavar a pobre Terra ingrata.
Permite-me que eu te recolha, Sangue tão precioso, sobretudo estas primeiras gotas.
Quero guardar-te no cálice do meu coração.
És prova irrefutável deste Amor, única causa de teres sido vertido.
Quero purificar-me através de ti, Sangue preciosíssimo! Quero com ele purificar todas as almas, manchadas pelo pecado.
Quero oferecer-te ao Pai.
É o sangue do seu Filho Bem-Amado que caiu sobre a Terra para a purificar.
É o Sangue do seu Filho que ascende ao Seu trono para reconciliar a Justiça ultrajada.
A alegria é na verdade muito mais veemente do que a dor.
Jesus chegou então ao fim do caminho doloroso? Não.
Ele não quer limitar a torrente do seu amor! É preciso que o homem saiba quanto ama o Homem-Deus.
É preciso que o homem saiba até que abismos de abjeção pode levar amor tão completo.
Embora a Justiça do Pai esteja satisfeita com o suor do Sangue preciosíssimo, o homem carece de provas palpáveis deste amor.
Jesus seguirá pois até ao fim: até à morte ignominiosa sobre a cruz.
O contemplativo conseguirá talvez intuir um reflexo desse amor que o reduz aos tormentos da santa agonia no Jardim das Oliveiras.
Aquele, porém, que vive, entorpecido pelos negócios materiais, procurando muito mais o mundo do que o Céu, deve vê-lo também pelo aspecto externo, pregado à cruz, para que, ao menos, o comova a visão do seu Sangue e a Sua cruel agonia.
Não.
o Seu coração, transbordante de amor, não está ainda contente! Domina-o a aflição, e ora de novo: "Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu bebe, faça-se a Tua vontade".
A partir deste instante, Jesus responde do fundo do seu coração abrasado de amor, ao grito da humanidade que reclama a sua morte como preço da Redenção.
À sentença de morte que seu Pai pronuncia no Céu, responde a Terra reclamando a sua morte.
Jesus inclina a sua adorável cabeça: "Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu o beba, faça-se a Tua vontade".
E eis que o Pai lhe envia um anjo de consolação.
Que alívio pode um anjo oferecer ao Deus da força, ao Deus invencível, ao Deus Todo-Poderoso? Mas este Deus quis tornar-se inerme.
Tomou sobre os ombros toda a nossa fraqueza.
É o Homem das Dores, em luta com a agonia.
Ora ao Pai por Si e por nós.
O Pai recusa atendê-lo, pois deve morrer por nós.
Penso que o anjo se prostra profundamente diante da Beleza eterna, manchada de pó e sangue, e com indizível respeito suplica a Jesus que beba o cálice, pela glória do Pai e pelo resgate dos pecadores.
Rezou assim, para nos ensinar a recorrer ao Céu, unicamente quando as nossas almas estão desoladas como a Sua.
Ele, a nossa força, virá ajudar-nos, pois que consentiu em tomar sobre os ombros todas as nossas angústias.
Sim, meu Jesus, é preciso que bebais o cálice até ao fundo! Estais votado à morte mais cruel.
Jesus, que nada possa separar-me de vós, nem a vida nem a morte! Se, ao longo da vida, só desejo unir-me ao vosso sofrimento, com infinito amor, ser-me-á dado morrer convosco no Calvário e convosco subir à Glória.
Se vos sigo nos tormentos e nas perseguições tornar-me-eis digno de vos amar um dia, no Céu, face a face, convosco, cantando eternamente o vosso louvor em ação de graças pela cruel Paixão.
Vede! Forte, invencível, Jesus ergue-se do pó! Não desejou Ele o banquete de sangue com o mais forte desejo? Sacode a perturbação que o invadira, enxuga o suor sangrento da face, e, em passo firme dirige-se para a entrada do Jardim.
Onde ides, Jesus? Ainda há instantes, não estavas empolgado pela angústia e pela dor? Não vos vi eu, trêmulo, e como que esmagado sob o peso cruel das provações que vão tombar sobre vós? Aonde ides nesse passo intrépido e ousado? A quem vais entregar-vos? - Escuta, meu filho.
As armas da oração ajudaram-me a vencer; o espírito dominou a fraqueza da carne.
A força foi-me transmitida, enquanto orava, e agora eis-me pronto a tudo desafiar.
Segue o meu exemplo e arranja-te com o Céu, como eu fiz.
Jesus aproxima-se dos apóstolos.
Continuam a dormir! A emoção, a hora tardia, o pressentimento de alguma coisa horrível e irreparável, a fadiga - e ei-los mergulhados em sono de chumbo.
Jesus tem piedade de tanta fraqueza.
"O espírito está pronto, mas a carne é fraca".
Jesus exclama.
"Dormi agora e repousai".
Detém-se por instante.
Ouvem que Jesus se vai aproximando, e entreabrem os olhos...
Jesus continua a falar: "Basta.
É chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar".
Jesus vê todas as coisas com os seus olhos divinos.
Parece dizer: Meus amigos e discípulos, vós dormis, enquanto que os meus inimigos velam e se aproximam para virem prender-me! Tu, Pedro, que há pouco te julgavas bastante forte para me seguir até na morte, também tu dormes agora! Desde o princípio tens-me dado provas da tua fraqueza! Está, porém, tranqüilo. Aceitei sobre mim a tua fraqueza e rezei por ti.
Depois de confessares a tua falta, serei a tua força e apascentará os meus rebanhos...
E tu, João, também tu dormes? Tu, que acabavas de sentir as pulsações do meu coração, não pudeste velar uma hora comigo! Levantai-vos, vamos partir, já não há tempo para dormir.
O inimigo está à porta! É a hora do poder das trevas! Partamos.
De livre vontade, vou ao encontro da morte.
Judas acorre para trair-me, e eu vou ao seu encontro.
Não impedirei que se cumpram à risca as profecias.
Chegou a minha hora: a hora da misericórdia infinita.
Ressoam os passos; archotes acesos enchem o jardim de sombras e púrpura.
Intrépido e calmo, Jesus avança seguido pelos discípulos.
- Ó meu Jesus, dai-me a vossa força quando a minha pobre natureza se revolta diante dos males que a ameaçam, para que possa aceitar com amor as penas e aflições desta vida de exílio.
Uno-me com toda a veemência aos vossos méritos, às vossas dores, à vossa expiação, às vossas lágrimas, para poder trabalhar convosco na obra da salvação.
Possa eu ter a força de fugir ao pecado, causa única da vossa agonia, do vosso suor de sangue, e da vossa morte.
Afasteis de mim o que vos desagrada, e imprimi no meu coração com o fogo do vosso santo amor todos os vossos sofrimentos.
Abraçai-me tão intimamente, em abraço tão forte e tão doce, que nunca eu possa deixar-vos sozinho no meio dos vossos cruéis sofrimentos.
Só desejo um único alívio: repousar sobre o vosso coração.
Só desejo uma única coisa: partilhar da vossa Santa Agonia.
Possa a minha alma inebriar-se com o vosso Sangue e alimentar-se com o pão da vossa dor! Amém."
(Pio de Pietrelcina II)

sábado, 4 de abril de 2009

Olhar juntos para exemplos concretos

Mesmo na confusão que domina o cenário político nacional e internacional, e até mesmo na "fragmentação e desorientação" que afetam a "unidade da pessoa", na origem do empenho político há um fator que misteriosamente pulsa. E resiste.
Dom Giussani, num discurso feito há vinte anos, mas que hoje, se possível, é ainda mais atual, definia-o simplesmente assim: "O senso religioso". Ou, "aquele elemento dinâmico que, por meio das demandas, das exigências fundamentais pelas quais ele se manifesta, guia a expressão pessoal e social do homem." E as exigências são aquelas de todo mundo: verdade, justiça, felicidade... Senso religioso, portanto. Ou coração. É daí que se pode partir.

Com atenção, porque o risco é que entre tantas demandas justas e legítimas a que os políticos não sabem responder, terminemos por pretender da política algo que ela não pode dar: a realização total da pessoa. Seria um erro trágico. A salvação não virá de palavras que se transformam em partido - mesmo que se trate de palavras nobres, como "democrático" e "liberdade" - nem de slogans raivosos que tomam conta das praças. Pois não há saída que não parta dalí, do reconhecimento paciente e cotidiano de que, acima dos interesses egoístas e das reações exasperadas, há ainda algo muito maior, pelo qual vale a pena viver e arriscar. Um desejo de bem que atinge a todos. Um "bem comum", justamente.
Se há uma diferença em relação ao passado é justamente essa. Antes, tudo isso era evidente. Nós nascíamos e crescíamos em um clima onde tudo isso era óbvio, estava implícito. E que foi perdendo força. Agora, perdeu de vez. Para reconhecê-lo precisamos de passos, de uma companhia que nos mostre a estrada, de educação.
Sobretudo, precisamos de exemplos concretos, de obras, de nomes, histórias, que partam do sentido religioso e se preocupem com o bem de todos. Obras que não prometam soluções totais aos problemas, mas que coloquem os homens - todos os homens - em condições de buscá-las, livremente.
Apoiar essa educação, buscar esses exemplos e cultivá-los, fazer com que vivam e se ampliem, é a primeira tarefa que cabe a quem se ocupa da coisa pública. Tarefa quase ascética, porque haverá a tentação de sufocá-los, reduzindo-os a instrumentos de poder ou misturando-os com coisas descartáveis. E dramático, porque coloca em questão a liberdade do político, inclusive frente ao próprio partido.
Se educar é um risco, fazer política também o é. Mas entre política e antipolítica, nós estamos com aqueles que ainda preferem correr o risco.

(Revista Passos nº 88, editorial)

quarta-feira, 4 de março de 2009

As férias e o destino


A espera das férias documenta uma vontade de viver:
exatamente por isso não devem ser “férias” de si mesmo.

Aquilo que uma pessoa realmente deseja não se entende do trabalho,
do estudo, ou daquilo que se faz por obrigação,

Mas é de como usa o tempo livre,
que se mostra o que ela deseja de verdade.

Um passo no caminho rumo a uma maturidade maior de si,
uma consciência maior do instante como relação com o destino,
uma consciência maior da relação entre o próprio eu e os outros,
uma consciência maior da relação entre o gesto efêmero,
o gesto meu e a presença das coisas.

Assim, a pessoa descobre um sentido maior de si mesma.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A glória de Deus é o homem que vive - Luigi Giussani



Naquela tarde, Jesus foi interrompido, parado no seu caminho em direção ao vilarejo ao qual se dirigia, ao qual se destinava, porque havia um choro altíssimo de mulher, com um grito de dor que feria o coração de todos os presentes, mas que feriu, feriu sobretudo o coração de Cristo.
“Mulher, não chores!” Uma mulher jamais vista, jamais encontrada antes.
“Mulher, não chores!” Que apoio podia ter aquela mulher que escutava a palavra que Jesus dizia?

“Mulher, não chores!”: quando se volta para casa, quando se vai de metrô, quando se sobre no ônibus, quando se vê a fila de carros pelas ruas, quando se pensa em todo o amontoado de coisas que interessam a vida de milhões de milhões de homens, de centenas de milhões de homens... Como é decisivo o olhar que uma criança ou um adulto “adulto” teriam dirigido àquele homem, o qual vinha à frente de um grupinho de amigos e que jamais tinha visto aquela mulher, mas que parou quando o som, o revérbero daquele choro chegou até Ele! “Mulher, não chores!”, como se ninguém a conhecesse, como se ninguém a reconhecesse mais intensamente, mais totalmente, mais definitivamente do que Ele!

“Mulher, não chores!”. Quando vemos – como falei antes – toda a movimentação do mundo, em cujo rio, em cujos riachos todos os homens se fazem presentes à vida, tornam a vida presente a si mesmos, a incógnita do fim nada mais é que a incógnita da maneira como chegaram a essa novidade, aquela novidade que faz encontrar um homem, faz encontrar um homem jamais visto, o qual, perante a dor da mulher que vê pela primeira vez, lhe diz: “Mulher, não chores!”

“Mulher, não chores!”: é esse o coração com o qual somos colocados diante do olhar e diante da tristeza, diante da dor de todas as pessoas com as quais nos relacionamos, pela rua ou na viagem, nas nossas viagens.

“Mulher, não chores!”. Que coisa inimaginável é que Deus – “Deus”, Aquele que faz o mundo inteiro neste momento -, vendo e ouvindo o homem, possa dizer: “Homem, não chores!”, “Você, não chore!”. “Não chore, porque não é para a morte mas para a vida que eu o fiz! Eu o coloquei no mundo, e o coloquei numa companhia grande de pessoas!”.
Homem, mulher, rapaz, moça, você, vocês, não chorem! Não chorem! Existe um olhar e um coração que os penetra até à medula dos ossos e que os ama até o seu destino, um olhar e um coração que ninguém pode desviar, ninguém pode tornar incapaz de dizer o que pensa e o que sente, ninguém pode tornar impotente!
“Gloria Dei vivens homo”. A glória de Deus, a grandeza dAquele que faz as estrelas do céu, que coloca no mar, gota por gota, todo o azul que o define, é o homem que vive.

Não há nada que possa suspender aquele ímpeto imediato de amor, de apego, de estima, de esperança. Porque tornou-se esperança para cada um que O viu, que ouviu: “Mulher, não chores!” que ouviu Jesus dizer assim: “Mulher, não chores!”.
Nada pode deter a certeza de um destino misterioso e bom!

Nós estamos juntos dizendo-nos: “Você aí, eu nunca o vi, não sei quem você é: não chore!”. Porque o choro é o seu destino, parece ser o seu destino inevitável: “Homem, não chores!”

“Gloria Dei vivens homo”: a glória de Deus – aquela por meio da qual sustenta o mundo, o universo – é o homem que vive, todo homem que vive: o homem que vive, a mulher que chora, a mulher que sorri, a criança, a mulher que morre mãe.

“Gloria Dei vivens homo”. Nós queremos isto e nada mais que isto, que a glória de Deus se manifeste a todo o mundo e alcance todos os âmbitos da terra: as folhas, todas as folhas das flores e todos os corações dos homens. Nunca nos vimos, mas é isto o que vemos e sentimos entre nós. Tchau!

(Colocação conclusiva de Dom Luigi Giussani: Exercícios da Fraternidade de CL, Rímini – Itália, 05/05/2002)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Expandir a razão - Julián Carrón

A questão da fé não está relacionada com o que não vemos,
mas com o que vemos, que tocamos, que experimentamos
que nos obriga a expandir a razão e a nos deixar arrastar,
magnetizar por essa presença boa que entra na vida.

Quem é que aceita esse desafio que vem do real,
de um real tão imponente, tão excepcional?
O que é que nos permite conhecer sem reduzir,
sem impor uma medida nossa para não perder o melhor?

Dom Giussani nos repetiu todos os dias:
"O Cristianismo apresenta assim o seu grande 'inconveniente':
exige 'homens' para ser entendido e vivido.

Homens: aquele nível da natureza no qual ela adquire consciência de si.

Se a humanidade não vibra, não há persuasão de discurso religioso que resista.
O Cristianismo não tem outra 'arma' a não ser o ser humano enquanto vive como tal..."

(Julián Carrón - Exercícios da Fraternidade. Rímini, 2008)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Negação de São Pedro - Duccio de Buoninsegna

"... Mas a misericórdia do Senhor está justamente na paciência com que, ao longo do tempo, repete as coisas, ao longo do tempo faz-nos repetir as coisas; repetindo e repetindo, sentindo uma pedrada na cabeça e depois mais outra, e mais outra ainda, finalmente estas palavras penetram no nosso cérebro, até começar a penetrar no coração. Primeiro penetram no cérebro e, por isso, não querem dizer ainda quase nada, mas depois penetram no coração e, então, começam a querer dizer algo..."

(Luigi Giussani, É Possível Viver Assim? - Editora Nova Fronteira, 1998, pg 164)

sábado, 31 de janeiro de 2009

Coleta de alimentos 2008 - Testemunho

Caros amigos, gostaria de compartilhar com vocês um pouco do que foi para mim participar do gesto da coleta de alimentos pela segunda vez.

Meus amigos Ana e Júnior me chamaram para participar com eles no mercado Prezunic em Niterói. Eu aceitei logo, porém, mais pela grande amizade com eles, do que pelo gesto em si.

Após uma semana bem corrida e cansativa, finalmente chegou o sábado – dia da coleta. Na véspera e no dia, quando acordei bem cedo para irmos pro mercado, pensei: “Meu Deus, como eu estou cansada, como será passar o dia todo no mercado, várias horas em pé?!” Se dependesse apenas de mim, da minha disposição, creio que nem iria. No entanto, como quem tava e está sempre no comando de tudo é Cristo, ofereci ao Senhor meu cansaço e lá fomos nós!

Chegando ao mercado, fomos muito bem recebidos por todos os funcionários, que inclusive, fizeram-se muito solícitos e prestativos desde o início. Começamos a organizar tudo e fazer aquela parte que pelo menos para mim costuma ser a mais difícil, que é abordar as pessoas, entregar o folheto e falar a respeito da coleta. Era evidente que por mim mesma, levando em consideração toda a minha timidez, teria ficado no meu cantinho, procurando fazer outras coisas, que não essa parte de ir até a pessoa e pedir a doação. Contudo, por uma Graça de Deus, senti foi uma enorme vontade de fazer de tudo, abraçar todo aquele gesto: arrumar as caixas, organizar tudo o que fosse preciso, entregar o folheto e explicar para as pessoas do que se tratava, pedir aos funcionários o que fosse preciso, receber os alimentos, arrumá-los nas caixas, entregar o folheto de agradecimento, enfim, estar ali atuando plenamente, inteira naquele gesto e sendo protagonista.

Na parte da tarde, nossos folhetos se acabaram e mesmo recuperando vários, que muitas pessoas deixavam largados e amassados pelo mercado, chegou um momento em que não tínhamos mais, então, foi preciso improvisar, pedindo sem o folheto ou com o de agradecimento. Foi quando me dirigi até o gerente e solicitei que o comunicador do mercado anunciasse a respeito da coleta pelo autofalante, o que surtiu um grande efeito e as pessoas contribuíam mesmo e muitos se interessavam, de verdade, em obter maiores informações a respeito do gesto que estávamos realizando. Sem dúvida alguma, nossa presença ali era um chamado de atenção às pessoas para o valor da caridade.

Inclusive, foi maravilhoso perceber que muitas pessoas que inicialmente se mostravam desconfiadas, titubeantes, no final das suas compras, acabavam contribuindo e depois até querendo saber mais. Era visível que elas haviam sido tocadas pela nossa presença, pela gratuidade daquele gesto.

Houve também outros belíssimos momentos, como de pessoas bem humildes que ajudavam contribuindo com diversos alimentos e pedindo folheto para levar para algum parente ou amigo que fosse ao mercado e pedir-lhes que também ajudassem.

Para mim, além de experimentar concretamente o sentido e o valor da caridade, ainda foi uma excelente ocasião de encontro com as pessoas. Como os próprios funcionários, que ao final da tarde já estavam todos nossos conhecidos e satisfeitos com a nossa presença no mercado.

No dia seguinte ao da coleta, quando estava na missa, agradeci ao Senhor, muitíssimo satisfeita por ter aderido a esse gesto e o vivido como protagonista. E pedi a Ele que me ajude a viver todos os dias, o meu trabalho, os estudos, as propostas do movimento, enfim, tudo que eu for chamada a responder, com o mesmo ímpeto, entusiasmo e afinco com que eu vivi o dia da coleta de alimentos.

Agradeço a todos os meus amigos voluntários que participaram junto comigo desse maravilhoso gesto!

Graças ao Senhor, com todo o meu limite e cansaço, eu aderi a essa proposta, pois se não tivesse participado, teria perdido o melhor!

Chris Gouvêa

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Revisão Vestibular UESB - V. Conquista (08 e 09/01/2009)




Muitas vezes, quando usamos a palavra amizade, só estamos descrevendo uma relação de encontros, cervejas, noitadas e, no melhor das hipóteses, um ombro para as nossas lamentações.

Dom Giussani, fundador do movimento de Comunhão e Libertação, chama a nossa atenção para o fato da amizade ser, um pouco das coisas listadas acima, mas ser, especialmente, uma preocupação (um interesse) com o destino do outro, com o percurso dos amigos rumo ao seu verdadeiro destino.

Para Dom Giussani, o destino do homem é o Infinito. Por isso, é o caminho que tomamos aqui, no aquém que nos leva para o além!

Daí a amizade ser algo que me mobiliza, me impulsiona de maneira efetiva a compartilhar a vida de meus amigos, nas suas alegrias, tristezas, anseios...

A partir desta perspectiva, o Movimento de Comunhão e Libertação de Vitória da Conquista – BA, com a ajuda voluntária dos professores Bite Marques (Redação) e José Ronaldo, vulgo Jhonny (Atualidades), realizou uma breve revisão para o Vestibular da UESB 2009 para um grupo de estudantes que anseiam um curso superior, o Infinito e além! (By Elton Quadros)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A pessoa, sujeito do relacionamento (O Milagre da Hospitalidade)


"...No discurso cristão, é motivado justamente e portanto possível que o homem não instrumentalize a mulher, ou vice-versa, exclusivamente como consequência da consciência de que o outro é relação com Deus, é pessoa. Do contrário, conforme o discurso cristão, é impossível não instrumentalizar-se. Pode-se acenar, no debate, a como a sociedade humana, concebida fora de um fato religioso autêntico (de um fato que tenha claro sentido de Deus como Pessoa e da relação do homem com esse Deus), tente remediar essa terrível mina que é a instrumentalização, que atenta contra a base de toda construção entre homem e mulher, bem como de toda relação entre homem e homem..."
(O Milagre da Hospitalidade - Luigi Giussani)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Milagre da Hospitalidade - Luigi Giussani

“...Se quisermos logo nos sentir repletos de riqueza na vida do pensamento, devemos partir sempre da grande verdade primordial: que não existíamos e agora existimos; logo, existir – isto é, viver, ser, mover-se – é participar de algo outro, além de nós. Como é pacificamente exaustivo poder dizer com clareza (com clareza na motivação, não com clareza diante do conteúdo, que é o mistério que Cristo nos revelou) que tudo o que fazemos participa de algo outro! A raiz da gratuidade está aqui: tudo o que fazemos e somos nos é dado, nós participamos de algo outro além de nós. Acredito não haver nenhuma verdade mais evidente do que esta: que a cada instante da nossa vida não nos fazemos por nós mesmos. É na vibração desta autoconsciência que se desenvolve em nós a possibilidade de uma oração real...”
(Trecho do livro O Milagre da Hospitalidade - Luigi Giussani)